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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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<strong>de</strong>ver-se à forte presença <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social, a a<strong>do</strong>pção parental <strong>de</strong> práticas parentaisinconsistentes e muitas vezes <strong>de</strong>sa<strong>de</strong>quadas quer em termos da sua severida<strong>de</strong>, quer relativamenteao nível <strong>de</strong> compreensão e <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da criança, tais como castigos rígi<strong>do</strong>s e puniçõesfísicas inapropriadas, ten<strong>de</strong>n<strong>do</strong> as crianças a ter uma representação <strong>do</strong>s imagos parentais comonegativa.As formas <strong>de</strong> comunicação patológica <strong>de</strong>scritas entre os membros da família <strong>de</strong>indivíduos com patologia bor<strong>de</strong>rline, tais como o comportamento pre<strong>do</strong>minantemente intrusivo,a utilização narcísica da criança, a inconsistência, a <strong>de</strong>spersonalização da criança, a qual é tratadacomo um objecto para apaziguar as necessida<strong>de</strong>s <strong>do</strong>s pais (maioritariamente da mãe,acreditamos), e não como um ser individual, com necessida<strong>de</strong>s, <strong>de</strong>sejos e expectativas própriosforam aspectos evi<strong>de</strong>ntes nas dinâmicas <strong>familiar</strong>es <strong>do</strong>cumentadas.Em to<strong>do</strong>s os casos, a figura materna não é evocada como um objecto protector eafectuoso, <strong>de</strong> importância fulcral para a integração <strong>de</strong> uma relação <strong>de</strong> objecto interna securizantee organiza<strong>do</strong>ra, o qual permitiria à criança a constância objectal necessária para fazer face àsangústias e conflitos inter<strong>no</strong>s. Pelo contrário, as figuras parentais são extremamente projectivasna relação com as crianças (lembra-<strong>no</strong>s a propósito a mãe <strong>de</strong> Afonso dizen<strong>do</strong> <strong>do</strong> filho que era “ofilho <strong>do</strong> Diabo”) constituin<strong>do</strong>-se por um conflito <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> narcísica proveniente <strong>de</strong>i<strong>de</strong>ntificações projectivas «alienantes». “Estas tornaram-se nefastas, quer porque servem paraevacuar o que os pais não conseguem suportar neles <strong>do</strong> seu passa<strong>do</strong>, quer porque inva<strong>de</strong>m e seanexam o funcionamento mental da criança, confirman<strong>do</strong> o peso transgeracional a que assistimosnestes casos. Os pais não se servem <strong>de</strong>las para comunicar, mas sim para continuar a <strong>de</strong>fen<strong>de</strong>r-secontra conflitos que remontam à sua infância.” (Bléan<strong>do</strong>nu, 1999, pg. 93). À semelhança <strong>de</strong>Masterson, na hipótese etiopatogénica da O.B.P., Adler e Buie (1979) vêm a sugerir que a criançabor<strong>de</strong>rline não conseguiu <strong>de</strong>senvolver um senti<strong>do</strong> estável <strong>de</strong> constância objectal, <strong>de</strong>vi<strong>do</strong> às falhasprecoces na relação com a mãe, na qual a falta <strong>de</strong> empatia, <strong>de</strong> sensibilida<strong>de</strong> e <strong>de</strong> rêverie foramevi<strong>de</strong>ntes (Meeking e O’Brien, 2004). Em resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong>sta situação, as crianças, sem conseguiremmentalizar e dar um senti<strong>do</strong> às experiências emocionais, vivenciam intensos sentimentos <strong>de</strong> raiva,intolerância, ansieda<strong>de</strong> e frustração, impossíveis <strong>de</strong> serem auto-regula<strong>do</strong>s, causan<strong>do</strong>comportamentos agressivos ou dissociativos, ou, <strong>de</strong> outra forma, experiencian<strong>do</strong> sentimentos <strong>de</strong>gran<strong>de</strong> vazio e <strong>de</strong>pendência.Posto isto, os da<strong>do</strong>s provenientes <strong>de</strong> diversas fontes, os quais permitiram alcançar umamaior e mais profun<strong>do</strong> conhecimento acerca <strong>do</strong> funcionamento-limite na infância e da suaetiopatogenia, embora confirmem a significativa influência <strong>de</strong> perturbações ao nível daparentalida<strong>de</strong> e <strong>do</strong> funcionamento <strong>familiar</strong> como se hipotetizou na presente investigação, vêm50

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