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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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uma inconsistência narcísica que se manifesta numa estrutura frágil, afectivamente imatura,frequentemente angustiada pelos <strong>de</strong>sejos dicotómicos <strong>de</strong> auto<strong>no</strong>mia e <strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência. Por não seencontrarem suficientemente seguros <strong>do</strong> amor da mãe e na relação com esta, estas criançastambém não se conseguem auto<strong>no</strong>mizar <strong>de</strong>la, e assim prosseguir as etapas subsequentes <strong>do</strong> seu<strong>de</strong>senvolvimento psico-afectivo. O forte controlo exerci<strong>do</strong> pela mãe, senti<strong>do</strong> em to<strong>do</strong>s os casos emanifesto nas provas projectivas, faz com que as crianças se submetam ao imago mater<strong>no</strong> efundamentalmente o i<strong>de</strong>alizem (particularmente evi<strong>de</strong>nte em João e Tomás), na esperança <strong>de</strong>conseguir o seu amor (Rinsley, 1981).À semelhança <strong>do</strong> que Palacio-Espasa e Dufour (2003) referem, e apesar da diversida<strong>de</strong>das fantasias expressas pelas crianças com organização limite da personalida<strong>de</strong>, as que com maisfrequência surgiram nesta investigação são as que se pren<strong>de</strong>m com uma insistência significativana procura <strong>de</strong> um objecto continente, a par ou alternadas com uma temática <strong>de</strong> tipo oral (comose constata <strong>no</strong> C.A.T.), e frequentemente associadas a uma problemática <strong>de</strong>pressiva. Este objectotão <strong>de</strong>seja<strong>do</strong> teria <strong>de</strong> ser um objecto que sustenha e contenha, mas também com capacida<strong>de</strong>stransforma<strong>do</strong>ras face às angústias internas não elaboradas (elementos beta), local on<strong>de</strong> estaspu<strong>de</strong>ssem ser <strong>de</strong>scarregadas e evacuadas (função alfa). Perante a falta <strong>de</strong> objectos inter<strong>no</strong>ssecurizantes, suficientemente bons, a criança bor<strong>de</strong>rline permanece na procura <strong>de</strong> constânciaatravés <strong>de</strong> objectos exter<strong>no</strong>s, daí a sua necessida<strong>de</strong> imperiosa da presença <strong>do</strong> outro, sentidacontra-transferencialmente <strong>no</strong> contacto das três crianças, constituin<strong>do</strong>-se este como um ponto <strong>de</strong>apoio, estabelecen<strong>do</strong> relações baseadas numa intensa <strong>de</strong>pendência, mais <strong>do</strong> que amor, das quaisespera <strong>de</strong>cisões que <strong>de</strong>terminem o rumo da sua existência (Pasini & Dameto, 2010).Consi<strong>de</strong>ran<strong>do</strong> os mecanismos <strong>de</strong>fensivos a que a criança bor<strong>de</strong>rline recorre porexcelência, a proposta <strong>de</strong> Kernberg (1975) acerca <strong>do</strong>s esta<strong>do</strong>s bor<strong>de</strong>rline e patologias narcísicaspostula que a intensida<strong>de</strong> negativa precoce <strong>do</strong> afecto na criança faz com que esta exerça umadivisão entre os aspectos positivos e negativos <strong>do</strong> Self e da mãe, não encontran<strong>do</strong> esta clivagemreparação (e conciliação numa só imagem), pelo que as crianças continuam a perceber tanto a sipróprias como ao mun<strong>do</strong> que as ro<strong>de</strong>ia em extremos <strong>de</strong> positivida<strong>de</strong> (i<strong>de</strong>alização) e negativida<strong>de</strong>(<strong>de</strong>svalorização). De facto, na percepção que as crianças manifestaram acerca <strong>do</strong>s seus imagosparentais, percebemos e forte presença da clivagem (não só <strong>do</strong> objecto mas também <strong>do</strong> Self), jáque não parece ser possível a integração <strong>do</strong>s aspectos bons e maus <strong>do</strong>s objectos, e assim atingir aambivalência e a necessária posição <strong>de</strong>pressiva.As falhas <strong>no</strong> processo <strong>de</strong> mentalização que <strong>no</strong>s pareceram <strong>de</strong>veras evi<strong>de</strong>ntes foram já<strong>de</strong>stacadas por diversos autores, inclusivamente Fonagy (2003), postulan<strong>do</strong> que estas criançastêm uma frágil organização <strong>do</strong> Self e uma tendência a regredir a formas <strong>de</strong> pensar não55

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