Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...
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primário <strong>de</strong> pensamento, como se a perda implicasse a falência <strong>do</strong>s recursos <strong>de</strong>fensivos <strong>do</strong>funcionamento mental. Face à impossibilida<strong>de</strong> em confrontar-se com a solidão, a ausência <strong>do</strong>objecto, introduz uma figura materna (que parece relacionada com a narrativa <strong>do</strong> cartão anterior,reparan<strong>do</strong> a mãe anterior indisponível e face à qual <strong>de</strong>monstrou gran<strong>de</strong> agressivida<strong>de</strong>), parecen<strong>do</strong>sentir prazer na relação mas que se torna impossível e tragicamente <strong>de</strong>struída, encontran<strong>do</strong>-se,aqui, presente um e<strong>no</strong>rme <strong>de</strong>samparo. Esta impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> acesso ao mater<strong>no</strong> parece, poroutro la<strong>do</strong>, ligada à presença <strong>de</strong> um terceiro elemento bastante agressivo. Parece verificar-se umsentimento <strong>de</strong> que a relação com um mater<strong>no</strong> gratificante e i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong> é violentamenteinterrompida, po<strong>de</strong>n<strong>do</strong> também relacionar-se com as falhas precoces na introjecção <strong>de</strong> umobjecto inter<strong>no</strong> securizante e protector e na constância objectal, restan<strong>do</strong> a representação <strong>de</strong> quea separação implica necessariamente a perda (morte). Afonso parece sensível ao afecto<strong>de</strong>pressivo, liga<strong>do</strong> a um nível mais regressivo, pelo receio da perda, sen<strong>do</strong> solicita<strong>do</strong>s o cuida<strong>do</strong> ea atenção <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s parentais, o que <strong>no</strong>s remete para as fragilida<strong>de</strong>s ao nível das relaçõesprecoces; não sen<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong>, elaborada a posição <strong>de</strong>pressiva.10.“Logo o mais difícil! Era uma vez <strong>do</strong>is cães que gostavam muito <strong>de</strong> ir à sanita para beber a águada sanita. E o <strong>do</strong><strong>no</strong> viu ele ali, <strong>de</strong>u-lhe tanta porrada que ele chegou a morrer e o pai <strong>de</strong>le que eraum pitbull e acabou por matar o <strong>do</strong><strong>no</strong>, e o pitbull teve outro filho e foi feliz para sempre. Fim.”Procedimentos fundamentais:IF8 – expressões cruas ligadas a uma temática agressiva;RC3 – critica ao material;RA4 – afectos ina<strong>de</strong>qua<strong>do</strong>s, maciços.Análise qualitativa:Os imagos parentais parecem aqui evoca<strong>do</strong>s, por um la<strong>do</strong> na figura <strong>de</strong> uma personagemexterna que <strong>no</strong>s parece remeter a princípio para uma referência à instância <strong>de</strong> regulaçãosuperegóica, e por outro na evocação <strong>de</strong> uma figura paterna i<strong>de</strong>alizada. Uma vez mais a narrativaelaborada faz recurso a um colori<strong>do</strong> agressivo bastante intenso, levan<strong>do</strong>-<strong>no</strong>s <strong>no</strong>vamente a pensarna constelação <strong>familiar</strong> como algo que para a criança é representa<strong>do</strong> como extremamenteambivalente e inconstante, oscilan<strong>do</strong> entre um afecto mal balancea<strong>do</strong> com hostilida<strong>de</strong> eagressivida<strong>de</strong> física e psicológica, na qual a fragilida<strong>de</strong> <strong>do</strong>s laços <strong>familiar</strong>es é evi<strong>de</strong>nte, numa<strong>de</strong>sregulação que traz imensa instabilida<strong>de</strong> psico-afectiva a Afonso.144