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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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sustentar a hipótese <strong>de</strong> que a evidência cumulativa <strong>de</strong> diversos factores <strong>de</strong> risco parece <strong>de</strong>cisiva<strong>no</strong> senti<strong>do</strong> <strong>de</strong> aumentar a vulnerabilida<strong>de</strong> psicológica da criança a <strong>de</strong>senvolver uma O.B.P..Relativamente ao objectivo <strong>de</strong> compreen<strong>de</strong>r o funcionamento inter<strong>no</strong> das crianças comorganização bor<strong>de</strong>rline, preten<strong>de</strong>mos reflectir acerca <strong>de</strong> <strong>de</strong>termina<strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da história clínica econstantes <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sempenhos nas provas projectivas <strong>do</strong>s casos que analisamos.Em primeiro <strong>lugar</strong>, em to<strong>do</strong>s os casos assistimos a um total vazio fantasmático em tor<strong>no</strong><strong>de</strong>stes meni<strong>no</strong>s outrora bebés. Efectivamente, quan<strong>do</strong> a criança é <strong>de</strong>sejada o diálogo pais-filhoexiste já na imaginação <strong>do</strong> casal, nem que seja somente pela escolha <strong>do</strong> <strong>no</strong>me que começa aconferir à futura criança a sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> e a sua realida<strong>de</strong> sexual, já que este simples gestorepresenta já o inicio <strong>de</strong> uma relação (Rota, 1991). Quan<strong>do</strong> a gravi<strong>de</strong>z é o resulta<strong>do</strong> <strong>de</strong> um <strong>de</strong>sejocomum, <strong>de</strong> um acto <strong>de</strong> amor, tanto afectivo como sexual, quan<strong>do</strong> se inscreve numa vonta<strong>de</strong> <strong>de</strong>procriar e <strong>de</strong> se enriquecer - e diríamos que mesmo quan<strong>do</strong> tal não acontece - a vida da criançanão começará com o nascimento. Para além <strong>do</strong> concretismo da genética e da biologia, preexistirá<strong>no</strong> imaginário e <strong>no</strong> amor <strong>do</strong>s pais. Neste senti<strong>do</strong>, po<strong>de</strong>mos falar <strong>de</strong> uma preexistência afectiva,por oposição à realida<strong>de</strong> objectiva <strong>do</strong> nascimento. De uma maneira indirecta e agressiva, paradisfarçar a sua inquietação, a criança procura simplesmente saber se é resulta<strong>do</strong> concreto <strong>de</strong> umamor <strong>no</strong> qual já ocupava um <strong>lugar</strong> ou se é apenas o fruto mais ou me<strong>no</strong>s infeliz e incómo<strong>do</strong> <strong>de</strong>circunstâncias fortuitas. Isto muda tu<strong>do</strong> para ela: <strong>no</strong> primeiro caso, sente total direito à existência;<strong>no</strong> segun<strong>do</strong>, consi<strong>de</strong>ra-se <strong>de</strong> certo mo<strong>do</strong> reduzida à posição <strong>de</strong> “<strong>de</strong>frauda<strong>do</strong>ra”, <strong>de</strong> “imigranteclan<strong>de</strong>stina” <strong>no</strong> país da vida, tem a sensação <strong>de</strong> ser mais tolerada <strong>do</strong> que <strong>de</strong>sejada, mais aceite <strong>do</strong>que amada (Rota. 1991).Acompanhan<strong>do</strong> o <strong>de</strong>senvolvimento patog<strong>no</strong>mónico <strong>de</strong>stas crianças verificamos atrasosem conquistas <strong>de</strong>senvolvimentais tais como a linguagem, a qual <strong>no</strong>s parece particularmentesignificativa já que as maiores dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> aprendizagem <strong>de</strong>stas crianças se pren<strong>de</strong>m com alíngua portuguesa, afinal a língua materna, as quais <strong>no</strong>s fazem pensar nas inquietações ligadas àdimensão da relação com o imago mater<strong>no</strong>; concomitantes com uma imaturida<strong>de</strong> geralencontrada, com atrasos <strong>no</strong>s <strong>de</strong>sempenhos cognitivos e nas capacida<strong>de</strong>s <strong>de</strong> simbolização, osquais foram consi<strong>de</strong>ra<strong>do</strong>s por autores como Misès (1990) <strong>no</strong> âmbito <strong>de</strong> possíveis <strong>de</strong>sarmoniasevolutivas numa primeira manifestação semiológica da patologia (cerca <strong>do</strong>s 3-4 a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> ida<strong>de</strong>).Neste senti<strong>do</strong>, esta tendência para o atraso <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento parece-<strong>no</strong>s inscrita num quadro<strong>de</strong> perturbações precoces ligadas ao sistema <strong>de</strong> vinculação com a figura materna, traduzida pelopadrão <strong>de</strong> vinculação inseguro-ambivalente supra <strong>de</strong>scrito, o qual foi evi<strong>de</strong>ncia<strong>do</strong> precocemente51

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