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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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<strong>de</strong>sta casa, vou arranjar outros pais”. A mãe refere também a baixa tolerância à frustração que<strong>no</strong>ta em Afonso, e aquilo que po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>signa<strong>do</strong> por enviesamentos cognitivos <strong>de</strong> carácterpersecutório (atribuições <strong>de</strong> “gozo” ou pejorativas, por parte <strong>de</strong> pares, <strong>familiar</strong>es e estranhos,quan<strong>do</strong> as situações não tinham essa co<strong>no</strong>tação). Face às alterações <strong>de</strong> comportamento émedica<strong>do</strong>, nessa altura, com Risperi<strong>do</strong>na (0,5mg, <strong>de</strong> manhã e à <strong>no</strong>ite). Concomitantemente, <strong>no</strong>inicio das consultas pe<strong>do</strong>psiquiátricas a mãe menciona que a criança tem dificulda<strong>de</strong> em separarse<strong>de</strong> si (“antes andava sempre atrás <strong>de</strong> mim”, “fica em pânico se não encontra a mãe”). Com aintrodução da medicação, na escola apresenta melhorias ao nível da concentração e dairrequietu<strong>de</strong> psicomotora (consegue acompanhar melhor as tarefas), contu<strong>do</strong> em casa a situaçãomantém-se.Em termos <strong>de</strong> situações <strong>de</strong> perdas na infância <strong>de</strong> Afonso, a mãe <strong>de</strong>staca que o avôpater<strong>no</strong> faleceu em Março <strong>de</strong> 2009 (próximo <strong>do</strong> inicio <strong>do</strong> seu acompanhamentope<strong>do</strong>psiquiátrico), sen<strong>do</strong> que a criança era muito chegada a este <strong>familiar</strong>, ten<strong>do</strong> vivi<strong>do</strong> muitoproximamente a <strong>do</strong>ença <strong>do</strong> avô (já que viviam juntos), <strong>de</strong> quem manifesta ter muitas sauda<strong>de</strong>s.No que concerne às preocupações evocadas pela mãe nas primeiras consultas, esta refereas gran<strong>de</strong>s dificulda<strong>de</strong>s sentidas ao nível da sua própria regulação emocional face aoscomportamentos mais disruptivos da criança (“consegue tirar-me <strong>do</strong> sério”), dizen<strong>do</strong> que se omanda parar ele ainda se comporta pior, e que, quan<strong>do</strong> tais situações acontecem, dada aimpotência sentida pela mãe, esta contacta o pai a quem Afonso obe<strong>de</strong>ce mais facilmente. Semprecisar uma data, a mãe esteve uma semana na qual esteve sem falar, na sequência <strong>de</strong> conflitoscom o mari<strong>do</strong>, quan<strong>do</strong> Afonso era pequeni<strong>no</strong>. Aproximadamente nessa data (2006) é medicadacom Fluoxetina através da consulta <strong>de</strong> neurologia, queixan<strong>do</strong>-se que se sentia triste e vazia, muitonervosa, não suportan<strong>do</strong> ouvir gritos - responsabiliza Afonso pelo “esgotamento”. Quan<strong>do</strong>Afonso se portava mal, por vezes a mãe chorava, ficava nervosa (“gagá”), gritava e dizia ao filhoque a <strong>de</strong>ixasse em paz, revelan<strong>do</strong>-se incapaz <strong>de</strong> conter e regular a tonalida<strong>de</strong> emocional dacriança. Dizia, <strong>no</strong> inicio <strong>do</strong> acompanhamento, que o filho tinha “atitu<strong>de</strong>s diabólicas” (“filho <strong>do</strong>Diabo”), tais como pegar numa faca e tentar matar a irmã (a qual por esta razão não conseguia<strong>do</strong>rmir). Conta, igualmente, que sentia me<strong>do</strong> <strong>de</strong> Afonso, já que ele lhe terá aperta<strong>do</strong> o pescoço.Verificam-se algumas idiossincrasias comportamentais <strong>de</strong> Afonso, <strong>de</strong>signadamente a mãe diz queele “odiava cortar as unhas” (“grita que parece que estou a matá-lo”). Afonso mostra-separticularmente agressivo com a irmã mais velha, porém os pais encontraram-<strong>no</strong> a dar pontapés àbebé quan<strong>do</strong> esta lhe mordia. “Os me<strong>do</strong>s <strong>do</strong>minam-<strong>no</strong> um boca<strong>do</strong>, sai à mãe e ao pai”.No contacto é <strong>de</strong>scrito pela pe<strong>do</strong>psiquiatria como uma criança simpática, que a<strong>de</strong>re <strong>de</strong>imediato à relação, globalmente imaturo (“parece um bebé cresci<strong>do</strong>, <strong>de</strong>sperta sentimentos <strong>de</strong>114

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