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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Mãe: “Porta-se mal. Ela até é extremamente inteligente, mas quan<strong>do</strong> a trocámos <strong>de</strong> escola, <strong>no</strong>sétimo, foi uma coisa, <strong>do</strong> oito para o oitenta, <strong>do</strong> estilo <strong>de</strong> assina os testes e simplesmente não seimporta, todas as disciplinas negativa, faltas então é uma coisa horrorosa, mesmo p’ra falar…”Pai: “Má pr’ós irmãos…”Mãe: “E tor<strong>no</strong>u-se muito mazinha para os irmãos. Ela com o A sempre teve aquela coisa,pronto, com o Tomás não foi tanto, mas não é aquela coisa <strong>de</strong> irmã, que aju<strong>de</strong>, que sejacarinhosa…nada, é uma frieza diabólica. E não fala pelos <strong>no</strong>mes, nem «o meu irmão», nada,«estes» é como ela se dirige aos irmãos.”Pai: “O A e o Tomás, eles brincam muito os <strong>do</strong>is, são amigos um <strong>do</strong> outro, eles também passambem sem ela, a irmã estar ali ou não estar é igual.”Mãe: “Quan<strong>do</strong> o A nasceu, nós pensávamos que era uma menina, e ela queria muito umamenina, an<strong>do</strong>u a comprar roupinha comigo, escolhemos o <strong>no</strong>me e tu<strong>do</strong>. Só que, quan<strong>do</strong> eu vimpara o hospital, porque o A também quis nascer mais ce<strong>do</strong>, eu ‘tava <strong>de</strong> seis meses, e a médica éque me disse que tinha ali um rapaz, e eu pensava que não podia ser, já tinha o enxoval to<strong>do</strong>compra<strong>do</strong> para uma menina, e afinal era um meni<strong>no</strong>. A N veio, porque o pai não ‘tava cá, e veiocom a avó, e ficou piursa, não queria nada um irmão, queria uma irmã. Então ela era mesmomuito mazinha p’ra ele, foi sempre um pan<strong>de</strong>mónio, e eu tentava que ela não se sentisse, fiz troca<strong>de</strong> prendas e tu<strong>do</strong>, como se o irmão tivesse trazi<strong>do</strong> uma prenda para ela também, porque tinhatrês a<strong>no</strong>s, mas ela fazia coisas diabólicas. Lembro-me <strong>de</strong> ela ‘tar a ver o irmão com os <strong>de</strong><strong>do</strong>sentala<strong>do</strong>s na porta e fechou a porta, era mesmo mazinha.”Pai: “Os mimos que se dá aos irmãos ela fica…”Mãe: “É horrível.”Pai: “Fica <strong>de</strong> morte.”Mãe: “Hum, hum. Não é que se fizesse distinções, mas na cabeça <strong>de</strong>la existiam distinções.”Pai: “O Tomás não, o Tomás é aquela máquina. Não se passa nada. «Vocês estão aí, eu estouaqui, mais nada».”Mãe: “Lá <strong>de</strong> vez em quan<strong>do</strong> faz as suas guerrinhas, não é?”Ψ: “Quan<strong>do</strong> saíram <strong>do</strong> hospital, com quem é que o Tomás ficou, teve apoio <strong>de</strong> alguém?”Mãe: “Com a mãe. <strong>Na</strong> altura foi comigo, porque eu não estava a trabalhar nessa altura.”Ψ: “E ficou com o Tomás até quan<strong>do</strong>?”Mãe: “Já não sei… Olhe, já nem sei…”Pai: “Tu ficaste com o Tomás até sempre pá!”260

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