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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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e <strong>do</strong>s resulta<strong>do</strong>s das provas projectivas (C.A.T. e F.R.T.), parece ter si<strong>do</strong> confirma<strong>do</strong> através,<strong>de</strong>signadamente, <strong>de</strong> uma importante ambivalência face à principal figura <strong>de</strong> vinculação – mãe -,patente em movimentos dicotómicos mútuos (da mãe e da criança) <strong>de</strong> aproximação e rejeição;bem como <strong>de</strong> características <strong>de</strong> relacionamento interpessoal intenso, instável na criança, os quaishabitualmente se relacionam com tais padrões <strong>de</strong> vinculação (Agrawal et al, 2004), movimentos<strong>de</strong> gran<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência e me<strong>do</strong> da perda da figura <strong>de</strong> vinculação, a par <strong>de</strong> pouca utilização damesma e intenso <strong>de</strong>sagra<strong>do</strong> perante a separação. Por <strong>de</strong>finição, e tal como suce<strong>de</strong> com estascrianças, os relacionamentos <strong>de</strong> indivíduos com O.B.P. não são percebi<strong>do</strong>s como seguros,verifican<strong>do</strong>-se, por conseguinte, uma associação entre o diagnóstico <strong>de</strong> O.B.P. e formas inseguras<strong>de</strong> vinculação (Agrawal et al, 2004). De facto, são evi<strong>de</strong>ntes falhas na constância objectal, e aexistência <strong>de</strong> relações <strong>de</strong> objecto internas percebidas como pouco securizantes, protectoras econtentoras. Investigações prece<strong>de</strong>ntes com crianças com O.B.P. que relacionam esta patologia àinsegurança <strong>do</strong> padrão <strong>de</strong> vinculação indicam que se verifica habitualmente uma intensaansieda<strong>de</strong> perante a separação, <strong>de</strong>signadamente na Situação-Estranho, na qual a criança nãoconsegue confiar na mãe para aliviar a ansieda<strong>de</strong>, permanecen<strong>do</strong> num registo evitante ouresistente, mesmo perante a sua presença (Sable, 1997). Recordamo-<strong>no</strong>s <strong>do</strong> que <strong>no</strong>s dizia, nestesenti<strong>do</strong>, a mãe <strong>de</strong> Manuel que o filho “antes andava sempre atrás <strong>de</strong> mim, ficava em pânico senão encontrasse a mãe”, a mãe <strong>de</strong> João refere “é uma criança muito agarrada aos pais, cola-semuito”, mas também a mãe <strong>de</strong> Tomás “ele é muito protector comigo; é a mãe, a mãe, a mãe epronto”.A propósito <strong>de</strong>ste padrão <strong>de</strong> vinculação, Alexandre (2007) diz-<strong>no</strong>s que a relação objectal<strong>de</strong> <strong>de</strong>pendência infantil faz com que a distância psíquica com o objecto seja balizada, por umla<strong>do</strong>, por uma necessida<strong>de</strong> vital <strong>de</strong> se aproximar e estar <strong>de</strong>le <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte mas, por outro la<strong>do</strong>, <strong>de</strong>se afastar e manter à distância. Parece-<strong>no</strong>s que a relação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> com o objecto é numaprimeira fase fonte <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejo e fascínio mas, ao mesmo tempo, a criança necessita <strong>de</strong> o manter àdistância por receio <strong>de</strong> o per<strong>de</strong>r, o que faz com que a relação <strong>de</strong> proximida<strong>de</strong> seja assombradapela ansieda<strong>de</strong> da perda e da intrusão. Isto leva-<strong>no</strong>s a um mecanismo <strong>de</strong> <strong>de</strong>fesa recorrente nestetipo <strong>de</strong> funcionamento, já que a relação com os objectos é marcada por uma intensa clivagementre o <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> estar próximo, <strong>de</strong> forma a evitar um <strong>de</strong>serto objectal insuportável (Alexandre,2007), e simultaneamente distante, sen<strong>do</strong> as ausências sentidas como perdas e as presençasarriscan<strong>do</strong>-se a ser percebidas como intrusões (Strecht, 2003).Outro <strong>do</strong>s factores etiopatogénicos <strong>de</strong>staca<strong>do</strong>s por diversos investiga<strong>do</strong>res trata-se daexistência <strong>de</strong> patologia na dinâmica <strong>familiar</strong>. Se todas as <strong>do</strong>enças mentais são <strong>do</strong>enças <strong>de</strong> relação,ou seja, perturbações da forma <strong>de</strong> estabelecer relações com os outros (Matos, 1969/2007), <strong>no</strong>48

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