13.07.2015 Views

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Verificámos, também, que em todas elas se pareceu <strong>de</strong>senvolver (em regime <strong>de</strong> falso-self)um la<strong>do</strong> aparentemente auto-suficiente e in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte (a criança prove<strong>do</strong>ra, gratifica<strong>do</strong>ra epresta<strong>do</strong>ra <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>s <strong>no</strong> lar <strong>familiar</strong>), <strong>do</strong> qual os afectos parecem <strong>de</strong>sliga<strong>do</strong>s; afinal pararsignifica pensar e pensar implica sofrer. Ainda assim, mesmo que lhes tenha si<strong>do</strong> difícil expressarquaisquer sentimentos, sentimos que são crianças tristes, com um fun<strong>do</strong> <strong>de</strong>pressivo carencial. Asdificulda<strong>de</strong>s manifestas em organizar o seu próprio sistema <strong>de</strong> contenção e regulação, sem aintegração a<strong>de</strong>quada <strong>do</strong> Ego, <strong>do</strong> sentimento <strong>de</strong> ser alguém concreto, separa<strong>do</strong> e individual, dai<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>, geram a adaptação <strong>de</strong> superfície, um funcionamento <strong>de</strong> segunda pele, o tal falso-self<strong>de</strong> que <strong>no</strong>s fala Winnicott.Consi<strong>de</strong>ramos que a presente investigação se tratou <strong>de</strong> um estu<strong>do</strong> precursor, ao abordarcom uma meto<strong>do</strong>logia nunca antes utilizada nesta população, um funcionamento psicopatológicoque tanto <strong>de</strong>safio oferece a investiga<strong>do</strong>res e clínicos, num perío<strong>do</strong> da infância tão largamenteme<strong>no</strong>spreza<strong>do</strong>. Sen<strong>do</strong> que a maioria <strong>do</strong>s estu<strong>do</strong>s acerca <strong>do</strong> funcionamento-limite é realizada comrecurso a indivíduos adultos e apenas num senti<strong>do</strong> retrospectivo e representacional (a partir <strong>do</strong>srelatos <strong>do</strong>s participantes), outra das conquistas <strong>de</strong>ste estu<strong>do</strong> pren<strong>de</strong>-se com o facto <strong>de</strong> teranalisa<strong>do</strong> os processos <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento da patologia, assistin<strong>do</strong> ao impacto (real erepresentacional) <strong>do</strong>s seus factores etiopatogénicos. Parece-<strong>no</strong>s, pois, imperativo que o estu<strong>do</strong> dapatologia bor<strong>de</strong>rline na infância seja continua<strong>do</strong>. Não obstante a relevância <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s obti<strong>do</strong>s,consi<strong>de</strong>ramos as limitações inerentes à utilização <strong>do</strong>s instrumentos quantitativos, isto é, osquestionários <strong>de</strong> auto-preenchimento, os quais, tanto <strong>no</strong> caso <strong>do</strong>s pais como <strong>no</strong> das crianças,parecem ter sofri<strong>do</strong> o efeito <strong>de</strong> <strong>de</strong>sejabilida<strong>de</strong> social, razão pela qual a a<strong>do</strong>pção <strong>de</strong> umaabordagem mista (com a realização <strong>de</strong> entrevistas) e complementar <strong>no</strong>s pareceu a mais a<strong>de</strong>quada.Por outro la<strong>do</strong>, o reduzi<strong>do</strong> número <strong>de</strong> participantes, necessariamente provenientes <strong>de</strong> umaamostra clínica, levou, porventura, a uma me<strong>no</strong>r representativida<strong>de</strong> da amostra e por conseguintea uma generalização <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s criteriosa e parcimoniosa, sen<strong>do</strong> <strong>de</strong>sejável que em investigaçõesfuturas se recorra a amostras populacionais <strong>de</strong> maiores dimensões.ConclusãoSelma Fraiberg (cit. por Strecht, 1998, pg.62) dizia com esperança a propósito <strong>do</strong>s casos<strong>no</strong>s quais a transgeracionalida<strong>de</strong> é particularmente evi<strong>de</strong>nte que “a história não tem <strong>de</strong> ser o<strong>de</strong>sti<strong>no</strong>”. No entanto, as raízes, profundas, infiltradas, <strong>do</strong> mal-estar da criança encontram-selonge <strong>no</strong> seu até aí pouco tempo <strong>de</strong> vida, na pré-história da sua família, reflexo <strong>do</strong> também difícil58

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!