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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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triparti<strong>do</strong> menciona<strong>do</strong> anteriormente, verifica-se que o aspecto mais positivamente assinala<strong>do</strong> setrata <strong>do</strong> factor Suporte Emocional (=3,5), segui<strong>do</strong> <strong>do</strong> factor Tentativa <strong>de</strong> Controlo (=2,9), o qualprece<strong>de</strong> o último factor, Rejeição (=1,9).Análise da entrevista com os paisNum primeiro momento a entrevista realizada aos pais <strong>de</strong> João, e procuran<strong>do</strong> obteralguma informação acerca da infância da criança, as questões colocadas nesse senti<strong>do</strong> revelaramuma quase ausência representacional <strong>do</strong>s primeiros a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> vida, o que seria porventuracompreensível da<strong>do</strong> o processo <strong>de</strong> parentalida<strong>de</strong> a<strong>do</strong>ptiva, mas não <strong>de</strong>ixan<strong>do</strong>, contu<strong>do</strong> <strong>de</strong> <strong>no</strong>s<strong>de</strong>ixar sensíveis a um quase total vazio simbólico infantil (<strong>de</strong>sconhecimento acerca das etapas<strong>de</strong>senvolvimentais da criança, <strong>de</strong>signadamente <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento psicomotor). As referênciasao passa<strong>do</strong> – emocionalmente ainda tão presente – da criança restringem-se a um relato duro ecruel <strong>de</strong> alguns episódios que marcaram negativamente os primeiros a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> vida (maus tratosseveros, aban<strong>do</strong><strong>no</strong>s e intercorrências <strong>de</strong> cuida<strong>do</strong>res sucessivos, inconsistência e alternância <strong>do</strong>ambiente, separações bruscas e violentas, rostos anónimos e indiferencia<strong>do</strong>s como alternativainstitucional a uma família hostil e maltratante).No <strong>de</strong>curso da entrevista, por outro la<strong>do</strong>, os pais referem que João se recorda <strong>do</strong>s maustratos<strong>de</strong> que foi vítima, ainda que actualmente não queira falar <strong>de</strong>sse assunto, contrariamente aoque acontecia <strong>no</strong>s primeiros tempos que se seguiram à a<strong>do</strong>pção, o que se tratava <strong>de</strong> um processonatural já que a criança sente necessida<strong>de</strong> <strong>de</strong> falar da sua <strong>de</strong>pressão, raiva e revolta, <strong>de</strong> inicioprovavelmente não por palavras, já que não consegue ter i<strong>de</strong>ias claras sobre isso, mas sim porcomportamentos. Estas alterações <strong>de</strong> comportamento, por vezes acompanhadas <strong>de</strong> gran<strong>de</strong>agressivida<strong>de</strong>, são o reflexo <strong>de</strong> intensas angústias internas que originam movimentosinconscientes <strong>de</strong> clivagem e projecção, não compreendidas pelos pais, os quais não conseguemefectuar uma leitura emocional, simbólica e contentora. Neste senti<strong>do</strong>, este passa<strong>do</strong> pareceextremamente presente, consciente e inconscientemente, para a criança, já que os pais fazem porvezes referência aos maus-tratos e ao aban<strong>do</strong><strong>no</strong> (perguntan<strong>do</strong> se um dia vai querer conhecer ospais biológicos, mencionan<strong>do</strong> que estes os maltratavam e o aban<strong>do</strong>naram, que o salvaram daInstituição, entre outros comentários), <strong>de</strong>svalorizan<strong>do</strong> a família <strong>de</strong> origem (o que cria umaclivagem artificial muito prejudicial), culpabilizan<strong>do</strong> a criança, oferecen<strong>do</strong> um amor condicionalao comportamento da criança e reagin<strong>do</strong> com algum sadismo <strong>no</strong> que concerne a <strong>de</strong>ixarentreaberta a porta <strong>de</strong> saída da vida <strong>de</strong>stes pais com um retor<strong>no</strong> implícito ao ambienteinstitucional.209

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