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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Comuns em to<strong>do</strong>s os casos foram, também, as separações <strong>de</strong> figuras importantes emida<strong>de</strong>s precoces <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das crianças (<strong>no</strong> caso <strong>de</strong> João as separações regulares dafigura materna e a total ausência paterna numa fase precoce <strong>do</strong> <strong>de</strong>senvolvimento, <strong>no</strong>s casos <strong>de</strong>Tomás e Afonso as separações pontuais <strong>do</strong> pai, e neste último a perda <strong>de</strong> uma importante figura<strong>de</strong> referência à qual estava particularmente liga<strong>do</strong> – o avô). De facto, a importância da existência<strong>de</strong> separações precoces na etiopatogenia da O.B.P. vem a ser assinalada por diversos autores, emparticular da figura paterna (Ban<strong>de</strong>low, 2005), <strong>de</strong>signadamente Walsh (1977) o qual constatou queum gran<strong>de</strong> número <strong>de</strong> indivíduos com organização limite reportava ter experiencia<strong>do</strong>significativas separações (por via <strong>de</strong> divórcio, morte ou outro tipo <strong>de</strong> ausência), e Bradley (1979)que verificou que 64% das crianças com patologia bor<strong>de</strong>rline vivenciaram separaçõesprolongadas <strong>do</strong>s seus pais numa primeira fase da vida e que essas ausências aconteciam maisprovavelmente nestas crianças <strong>do</strong> que em crianças com outras formas <strong>de</strong> psicopatologia. Aindisponibilida<strong>de</strong> da figura paterna, quer resultante <strong>de</strong> ausências reais quer <strong>do</strong> maiordistanciamento afectivo, consubstancia-se como um factor transversal às histórias clínicasanalisadas. Ora, a ausência <strong>do</strong> pai, não necessariamente conduzin<strong>do</strong> a perturbaçõespsicopatológicas, é consi<strong>de</strong>rada patogénica na medida em que po<strong>de</strong> criar condições paraprolongar a <strong>de</strong>pendência <strong>do</strong>s filhos em relação à figura materna – como aliás se verificou emto<strong>do</strong>s os meni<strong>no</strong>s -, dificultan<strong>do</strong> ou perturban<strong>do</strong> a triangulação edipiana, com repercussões aonível <strong>do</strong> processo <strong>de</strong> i<strong>de</strong>ntificação e <strong>de</strong> separação-individuação (Malpique, 1999). Assim, aexcessiva aproximação entre a mãe e a criança po<strong>de</strong> construir-se como obstáculo para o<strong>de</strong>senvolvimento da sua auto<strong>no</strong>mia e aquisição da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong>. O pai, frequentemente <strong>de</strong>miti<strong>do</strong>das suas funções parentais (e <strong>no</strong>s presentes casos, ou indisponível, ou presente e mal-tratante ouausente, por vezes substituí<strong>do</strong> com diversas alternâncias que carecem <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong>), parecepropiciar o aparecimento <strong>de</strong> sentimentos <strong>de</strong> <strong>de</strong>samparo e aban<strong>do</strong><strong>no</strong> e baixa auto-estima(Malpique, 1999). Se num <strong>do</strong>s casos (João) a ausência e o carácter mal-tratante da figura paternapautou o seu relacionamento com a criança, <strong>no</strong>s <strong>do</strong>is restantes casos (Afonso e Tomás) estaausência (manifesta em separações por vezes prolongadas) ou indisponibilida<strong>de</strong> paterna éevocada <strong>no</strong> discurso <strong>de</strong> duas das mães, repercutin<strong>do</strong>-se, <strong>no</strong>s três, na representação <strong>do</strong> imagopater<strong>no</strong> constante <strong>no</strong>s protocolos <strong>de</strong> C.A.T. das crianças (<strong>no</strong> caso <strong>de</strong> Afonso com um imagopater<strong>no</strong> ambivalente, entre agressivo e i<strong>de</strong>aliza<strong>do</strong>, para João totalmente ausente e <strong>no</strong> caso <strong>de</strong>Tomás rejeitante e controla<strong>do</strong>r).A existência <strong>de</strong> um padrão <strong>de</strong> vinculação inseguro-ambivalente a <strong>de</strong>sorganiza<strong>do</strong>, outro<strong>do</strong>s factores etiopatogénicos <strong>do</strong> funcionamento limite, embora não medi<strong>do</strong> por um instrumentoque a esse fim unicamente se <strong>de</strong>stinasse, a partir <strong>do</strong>s da<strong>do</strong>s da história clínica, <strong>do</strong>s relatos <strong>do</strong>s pais47

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