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Na Terra do Nunca, no lugar de ninguém: dinâmica familiar ...

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Quan<strong>do</strong> foi a<strong>do</strong>pta<strong>do</strong>, aos seis a<strong>no</strong>s, a criança usava fralda uma vez que mantinha enurese<strong>no</strong>cturna, mas os pais referem que a remoção da mesma revelou-se fácil.Relativamente ao comportamento <strong>do</strong> filho indicam que quan<strong>do</strong> faz alguma asneira e ospais ralham ou batem, João abraça-os e pe<strong>de</strong> <strong>de</strong>sculpa, dizen<strong>do</strong> que não volta a fazer. “Vai comtoda agente, é muito da<strong>do</strong>, mete conversa na praia, arranja logo amigos. Depois <strong>de</strong> as pessoas oconhecerem dizem que João os enga<strong>no</strong>u”, relata a mãe. Ainda neste senti<strong>do</strong>, esta refere que <strong>no</strong>sprimeiros a<strong>no</strong>s <strong>de</strong> escolarida<strong>de</strong> o filho “dava tesouradas <strong>no</strong> cabelo”. Ao <strong>de</strong>screver a criança ospais indicam que “é muito obstina<strong>do</strong> e irrequieto”, fazen<strong>do</strong> por vezes algumas birras, referin<strong>do</strong>que em relação ao pai João é “mais obediente”. Indicam que o filho rói muito as unhas, mente –“as <strong>de</strong>sculpas saem-lhe como se fosse a verda<strong>de</strong>” -, não mostran<strong>do</strong> os testes e dizen<strong>do</strong> que nãotem TPC’s, interrompe as conversas <strong>do</strong>s pais porque tem que dizer algo naquele momento senãoesquece-se, está sempre a pedir coisas, e faz chantagem. O pai emociona-se diversas vezesdurante a consulta (quan<strong>do</strong> diz que o João é meigo e quan<strong>do</strong> conta que lhe bate) e diz que“castigar o João lhe dói mais a ele <strong>do</strong> que ao João”.Revela auto<strong>no</strong>mia em termos <strong>do</strong>s hábitos <strong>de</strong> higiene e veste-se sozinho, ainda que,segun<strong>do</strong> a mãe, tenha tendência para pedir aos pais para fazerem as coisas por ele (e.g. atar osataca<strong>do</strong>res). Em termos da dinâmica <strong>familiar</strong>, a mãe conta que João gosta muito <strong>de</strong> estar com opai e manifesta muitas solicitações afectivas, tais como “pedir muitos beijinhos”, ainda quecontinue dizen<strong>do</strong> que a criança seja “muito agarrada aos pais -cola-se muito”.A mãe passava-lhe trabalhos <strong>de</strong> casa adicionais, até que a directora <strong>de</strong> turma lhe disse queestava a “massacrar” o João. Em termos da re<strong>de</strong> social <strong>de</strong> suporte, os pais referem que esta éextensa e presente, <strong>no</strong>meadamente em termos da disponibilida<strong>de</strong> da família paterna(geograficamente mais próxima) para, por exemplo, levar e ir buscar o João à escola (“a avó fazlhetodas as vonta<strong>de</strong>s”). O pai indica ter um bom relacionamento com a família <strong>de</strong> origem.Sempre quis ter filhos, “gosta muito <strong>de</strong> crianças”. Juntos “praticamente criaram” uma sobrinha, etêm muito convívio com os sobrinhos.<strong>Na</strong> primeira consulta <strong>de</strong> pe<strong>do</strong>psiquiatria os pais indicam que João tem bomaproveitamento escolar (sem, contu<strong>do</strong>, conseguir ler nem escrever <strong>no</strong> final <strong>do</strong> primeiro a<strong>no</strong> <strong>de</strong>escolarida<strong>de</strong>), e mencionam como principal preocupação as dificulda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> relacionamento coma mãe.A mãe fazia hemodiálise por insuficiência renal e foi recentemente transplantada (osirmãos, por motivo <strong>de</strong> <strong>do</strong>ença não pu<strong>de</strong>ram <strong>do</strong>ar-lhe um rim). O mari<strong>do</strong> tem rim compatível masnão quiseram essa opção por me<strong>do</strong> que este morra e por “protecção <strong>do</strong> João <strong>no</strong> futuro”. Joãodizia que queria ser médico para dar um rim à mãe. A criança tem me<strong>do</strong> que a mãe morra, mas181

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