A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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Não caberá aqui a exposição dos pressupostos e métodos da teologia sistemática, en-<br />
tretanto, sim, será pertinente tratar das concepções e procedimentos hermenêuticos que se<br />
inscrevem na fronteira da exegese, da teologia e da homilética.<br />
Para autores como Emerich Coreth 278 e Knierim, a hermenêutica “pertence ao domínio<br />
do pensamento teológico” e sua tarefa envolve “o encontro entre o valor dos textos [...] com<br />
o valor das situações de hoje” 279 . Isso se dá de maneira tal que a hermenêutica confronta o<br />
mundo da Bíblia “com o nosso mundo e suas múltiplas e igualmente diversas situações” 280 .<br />
Ao se distinguir entre hermenêutica como método e como interpretação de textos, se nota a<br />
proximidade desta última com a pregação — por mediar “o encontro entre os enfoques dos<br />
textos bíblicos e os de situações comparáveis de nossa realidade, hoje” 281 .<br />
A hermenêutica com a qual a homilética dialoga pode ser definida como a ciência ou<br />
arte da interpretação (ars interpretandi) das Sagradas Escrituras. 282 Em sentido amplo, her-<br />
menêutica é a ciência da interpretação da linguagem de um autor. Aplica-se principalmente<br />
à abordagem de documentos escritos (e também quanto à exposição oral 283 ), mas também<br />
pode ser aplicada à interpretação de acontecimentos, uma vez que “a hermenêutica inscreve-<br />
se no extenso campo das ciências dos signos” — e sendo signos tanto os textos como os<br />
acontecimentos humanos, estes como aqueles também “apelam à interpretação” 284 . Assume<br />
que há modos diversos de pensar e ambigüidades de expressão que distanciam os autores de<br />
seus leitores. Assim, a hermenêutica pretende remover, ou pelo menos reduzir, as supostas<br />
diferenças entre ambos. Distingue-se, usualmente, entre hermenêutica geral e especial. A<br />
geral, mais metódica e filosófica, dedica-se aos princípios gerais aplicáveis à interpretação<br />
de todas as linguagens e escritos. A hermenêutica especial, mais prática e empírica, dedica-<br />
se à interpretação de escritos e classes de escritos específicos ou particulares. 285 Não obstan-<br />
te, Severino Croatto não vê razão para essa distinção, uma vez que “sempre se lê hermeneu-<br />
278<br />
Cf. CORETH, Emerich. Questões fundamentais de hermenêutica. Trad. <strong>Carlos</strong> Lopes de Matos. São Paulo:<br />
E.P.U. : EDUSP, 1973. p. 5ss.<br />
279<br />
KNIERIM, 1990, p. 18 e 16.<br />
280<br />
Id., ibid., p. 16.<br />
281<br />
Id., ibid., p. 15.<br />
282<br />
Cf. TERRY, Milton S. Biblical Hermenutics: a Treatise on the Interpretation of de Old and New Testaments.<br />
Michigan: Zondervan, 1974. p. 17.<br />
283<br />
Sobre isto, ver SCHLEIERMACHER, Friedrich D. E. Hermenêutica: arte e técnica da interpretação. Trad.<br />
Celso Reni Braida. Petrópolis: Vozes, 1999. p. 33.<br />
284<br />
Vd. CROATTO, 1994, p. 27.<br />
285<br />
Sobre essa diferenciação ver TERRY, 1974, p. 17.<br />
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