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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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ta” das demais expressões do exercício do poder e, portanto, exige submissão. Da mesma<br />

forma que a sociedade espetacular depende dos especialistas “científicos” para solucionar<br />

seus impasses, a religião espetacular recorre aos especialistas “espirituais”. Por alguma ra-<br />

zão, consideram que as orientações e orações desses líderes são mais poderosas que as das<br />

pessoas comuns. Trata-se de manifestação de flagrante superstição 663 , uma vez que, a rigor,<br />

o poder milagroso não está em Deus, mas no seu representante, e que a ação de Deus de-<br />

pende da intervenção daquele, subordinando-se assim a divindade ao humano.<br />

A relação de credibilidade entre o pregador e a audiência é plasticamente semelhante à<br />

de outros animadores de auditório, como observou Vera Silva:<br />

199<br />

A diferença plástica entre um programa-do-ratinho [sic] e estes é que<br />

pastores e padres sempre mostram os fiéis no depois, o antes é simulado<br />

como no linha-direta. Assim, o sofrimento é considerado extinto, sem<br />

mais nenhuma relação com aquela pessoa. Uma simbólica nova vida, através<br />

do acreditar no que o pastor falou. 664<br />

Na medida em que tais líderes vão se dando conta do poder que exercem sobre a mul-<br />

tidão de fiéis, ganham confiança e tendem a propor princípios e práticas cada vez mais bi-<br />

zarras e extravagantes, como as “campanhas da fé” e as “correntes” da Igreja Universal do<br />

Reino de Deus: “Campanha da restituição”, “Campanha das ‘pedras da fé’”, Campanha de<br />

Senaqueribe”, “Campanha das portas abertas”, “Campanha do saquitel de Deus”, “Campa-<br />

nhas das loucuras da fé”, “Campanha da arruda”, etc. 665<br />

Reinaldo Brose, em seus primeiros estudos sobre a telehomilética, expressava com en-<br />

tusiasmo sua esperança positiva na ocupação da mídia pelos cristãos. 666 Certamente ele não<br />

tinha em mente que a proclamação querigmática dos valores do Evangelho mediante uma<br />

pastoral da comunicação cristã daria lugar a uma pastoral imediatista empenhada não na<br />

663 A rigor, O termo superstição significa: “crença ou noção sem base na razão ou no conhecimento, que leva a<br />

criar falsas obrigações, a temer coisas inócuas, a depositar confiança em coisas absurdas, sem nenhuma relação<br />

racional entre os fatos e as supostas causas a eles associadas; crendice, misticismo”. Cf. HOUAIS, 2001.<br />

664 SILVA, consulta em 15.6.2005.<br />

665 Fazem escola as campanhas promovidas pela Igreja Universal do Reino de Deus (IURD). São as “Reuniões<br />

da Felicidade”: “Corrente dos 318 homens de Deus”; “Sessão de descarrego”; “Corrente da libertação”; “Terapia<br />

do amor”, etc. Cf. Sítio oficial da igreja na Internet, disponível em http://www.igrejauniversal.org.br/.<br />

Consultado em julho de 2005. Uma lista com uma breve descrição das principais “correntes” e “campanhas<br />

de fé”, praticadas pela IURD, pode ser encontrada em CAMPOS, 1997, p. 161-164.<br />

666 Ver BROSE, 1973. Ver também BROSE, 1980.

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