18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

sofística, mediante o ensinamento da retórica. 337 Ele se dedicaria a uma retórica paradigmá-<br />

tica, ocupando-se das “figuras” de retórica, a lexis ou elocutio. A grande novidade está em<br />

que Górgias aplica à prosa tais figuras 338 , até então restritas à poesia. Ao submeter a prosa<br />

ao código retórico, Górgias passa do verso à prosa dando a esta elementos daquela: “pala-<br />

vras com a mesma consonância, simetria das frases, reforço da antíteses por assonância,<br />

metáforas, aliterações” 339 , entre outros.<br />

Tem-se, assim, um aspecto sintagmático e outro paradigmático da retórica que, de al-<br />

gum modo, ainda hoje conforma o seu estudo. Isto é, uma parte que se ocupa do discurso<br />

em si, dos elementos que o compõe e das partes que o constituem; e outra que se ocupa das<br />

cores e ornamentos do discurso, e de como isso interage com o receptor.<br />

Muito da crítica que se faz à retórica se deve à sua vertente sofística. Protágoras (c.<br />

486-410), considerado o fundador da erística (do grego éris = controvérsia) ou arte de ven-<br />

cer uma discussão contraditória, parte do princípio de que “a todo argumento pode-se opor<br />

outro, [e] que qualquer assunto pode ser sustentado ou refutado” 340 . Para argumentar ou<br />

contra-argumentar, recorre-se aos sofismas (daí o rótulo sofista) — o sofisma é um “racio-<br />

cínio aparente e ilusório, por não respeitar as regras da lógica” 341 . Tudo o que se sabe dos<br />

sofistas é conhecido por meio dos seus inimigos, mas ao que parece, sua arte se apóia no<br />

“relativismo pragmático”, uma vez que, para eles, “a verdade nunca passa de acordo entre<br />

interlocutores” 342 . Como a verdade é sempre diferente para cada indivíduo (ou mesmo para<br />

cada cidade), a conclusão de Protágoras é que o homem é a medida de todas as coisas, e<br />

que, portanto, mudando-se as percepções dos indivíduos, muda-se sua verdade. Isso se faz<br />

por meio da palavra, que vira instrumento de dominação — pois já não é instrumento de<br />

saber, mas de poder. Como não há verdade absoluta nem conhecimento objetivo, também<br />

não há necessidade da lógica.<br />

337<br />

PADOVANI, Umberto; CASTAGNOLA, Luís. História da Filosofia. 16 ed. São Paulo: Melhoramentos,<br />

1994 (1 ed. em 1954). p. 108.<br />

338<br />

Algumas das figuras são: anacoluto, aliteração, anticlímax, assíndeto, antítese, catacrese, elipse, eufemismo,<br />

hipérbato, hipérbole, metáfora, metonímia, onomatopéia, oxímoro, paradoxo, polissíndeto, prosopopéia ou<br />

personificação, silepse, sinestesia, etc. Cf. PIMENTEL, <strong>Carlos</strong>. Português descomplicado. São Paulo: Saraiva,<br />

2004. p. 211-215.<br />

339<br />

BARTHES, 2001, p. 10-11.<br />

340<br />

REBOUL, 2004, p. 7.<br />

341<br />

Id., ibid., p. 252.<br />

342<br />

Id., ibid.,. p. 9.<br />

116

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!