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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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to de todo um significado discursivo em um significante ético-poético-narrativo consistente.<br />

Ao recorrer ao relato, o homileta se aproxima do seu interlocutor, porque se aproxima de<br />

seu cotidiano. Entretanto, essa forma de aproximação não implica necessariamente na vul-<br />

garização ou banalização da mensagem. Ao contrário, é justamente essa sintonia com as<br />

aspirações mais profundas do indivíduo, que torna possível a transcendência do discurso e o<br />

reencantamento do mundo.<br />

Em suma, pela via imagética, o relato seduz por sua implicação emotiva; potencializa<br />

sua ideologia por seu caráter mítico; purifica o espectador mediante a liberação psíquica que<br />

produz nele; reencanta o universo simbólico do interlocutor pelo jogo dialético do ritual da<br />

repetição.<br />

Como afirmam os músicos a respeito da música, também a prédica, a rigor, “não exis-<br />

te”, pois ela é, em parte, expectativa e, em parte, memória. A prédica é, igualmente, aconte-<br />

cimento, é instante, é alocução, é status predicandi, é sedução em andamento, é silêncio em<br />

eloqüência e som em persuasão, enfim, a prédica é (!), e para ser, não pode nem precisa e-<br />

xistir. Talvez nisso esteja o seu fascínio, talvez nisso esteja seu encanto. Por um pouco é<br />

palavra esperada, num átimo torna-se palavra encarnada, para logo a seguir submergir e<br />

ressurgir como memória sagrada, pela magia da misteriosa dança das palavras.<br />

II.3 Propósitos (ou fins) homiléticos (modus vivendi)<br />

155<br />

Cada ouvinte tende a ouvir sua própria mensagem. De modo geral, elas<br />

[as pessoas] se inclinam a recordar mensagens que sejam simpáticas às<br />

suas crenças anteriores e a esquecer as que lhes são avessas.<br />

(Richard Saul Wurman 511 )<br />

Até aqui se discutiu a respeito dos fundamentos e do método homilético. Cabe agora,<br />

para completar uma teoria homilética, abordar os seus propósitos. Isto será feito conside-<br />

rando a tipologia clássica dos sermões, em relação com a classificação dos gêneros discur-<br />

sivos formulados por Aristóteles, uma vez que tal classificação foi feita tendo em vista os<br />

511 WURMAN, 2003, p.

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