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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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de interações populares tais como os refrões de canções folclóricas que, por serem redun-<br />

dantes, não trazem novidades, entretanto reforçam a pertença ao grupo e a determinada sub-<br />

cultura. Fisk chama a atenção, ainda, para o fato de que o que é entrópico, num determinado<br />

momento, pode vir a se tornar convencional com o tempo; e o estranhamento, ou mesmo a<br />

rejeição inicial, poderá dar lugar ao acolhimento e à aceitação. Exemplos desse processo são<br />

abundantes no campo da moda e das artes em geral, em que o ultraje inicial transforma-se<br />

em assimilação. 701<br />

Segundo John Fisk 702 , pesquisas indicam que os níveis de redundância na língua in-<br />

glesa giram em torno de 50% e, segundo Nelson Kirst 703 , de 50 a 75% na língua Alemã.<br />

Não se sabe de uma tal pesquisa em relação à língua portuguesa, mas basta assistir a um<br />

programa religioso televisionado, ou transmitido via rádio, para se constatar o alto nível de<br />

redundância. Se eliminadas as repetições, as informações realmente novas, em um programa<br />

de 30 minutos, caberiam em um par de minutos, ou a uns poucos segundos. 704<br />

Em síntese, do ponto de vista homilético e comunicacional, uma prédica proferida no<br />

contexto celebrativo de uma comunidade eclesial local pode ter um caráter mais entrópico,<br />

uma vez que a audiência é pequena, mais especializada e homogênea em relação ao tipo de<br />

comunicação pretendida. Em contrapartida, uma mensagem que utilize canais de comunica-<br />

ção de massa — que alcance, portanto, a um público heterogêneo e amplamente diversifica-<br />

do — precisa restringir o seu nível de entropia e exige um alto grau de redundância. Segue-<br />

se que uma homilética massiva tende à repetição, a recorrer ao convencional, e ao emprego<br />

de estereótipos; tende a desrespeitar, portanto a complexidade da existência humana. 705 Tal<br />

homilética se constitui, assim, em instrumento de reiteração das representações sociais cole-<br />

tivas porque estas são criadas com base na repetição e em geral refletem a ideologia domi-<br />

nante; bem como tende a ser reducionista porque, pelo emprego de estereótipos, transforma<br />

701 Cf. FISKE, 1988, p. 30-31.<br />

702 Cf. Id., ibid., p. 25.<br />

703 Cf. KIRST, 1996, p. 102-103.<br />

704 Sobre importância da pregação breve, ver CASTRO, Jilton Moraes de. O valor da brevidade para a relevância<br />

da pregação: ensaio a partir da análise crítica do trabalho homilético de David Mein. Tese (Doutorado<br />

em Teologia). Departamento de Estudos Pós Graduados do Seminário Teológico Batista do Norte do Brasil.<br />

Recife, 1993. 209 f.<br />

705 Sobre o tema da complexidade, ver: MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. 4 ed. Lisboa:<br />

Instituto Piaget, 2003. 177 p. Epistemologia e sociedade.<br />

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