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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Atribui-se a Ovídio 361 a aproximação entre a poesia e a arte oratória (semelhante à que Gór-<br />

gias havia feito entre a poesia e a prosa). E Dionísio de Halicarnasso (60 a.C-7 d.C.) teria<br />

abandonado a entimemática de Aristóteles para ocupar-se do movimento das frases, apare-<br />

cendo assim uma noção autônoma de estilo não baseado na lógica, mas na ordem das pala-<br />

vras e guiada por valores de ritmo. E, finalmente, sob a tirania do imperador romano Domi-<br />

ciano 362 , que impõe silêncio ao Fórum, como constata Barthes, a “eloqüência emigra para a<br />

‘Literatura’ [...] (eloquentia passa a significar literatura)”. 363<br />

Barthes discorre, ainda, sobre a neo-retórica que teria “vigorado no mundo greco-<br />

romano unido, do século II ao século IV d.C.”. Trata-se de um “império literário”, com ex-<br />

poentes como Santo Agostinho 364 (354-430), Libânio de Antioquia (314-393), São Gregório<br />

Nazianzeno (ca. 330-390), entre outros, que têm como referência a sofística e a retórica.<br />

Nesse período, o discurso deixa de ter “finalidade persuasiva mas puramente ostentatória” e<br />

valoriza o “estilo” e seus ornamentos, principalmente o arcaísmo, a metáfora, a antítese e a<br />

cláusula rítmica. Na Idade Média, período subseqüente, a retórica fica enfraquecida pela<br />

gramática e pela lógica e é igualmente reduzida ao domínio do ornamento. 365 Pode-se dizer,<br />

de maneira genérica, que, na Idade Média, a retórica persuasiva dá lugar a uma retórica or-<br />

namental. 366<br />

Daí a suposição da morte da retórica, não obstante os seus vários ressurgimentos ao<br />

longo da história, e em detrimento da publicação de numerosos tratados de retórica, sempre<br />

marcados por uma volta a Aristóteles. Seu grande algoz teria sido a “evidência” (dos fatos,<br />

das idéias, dos sentimentos) que, a partir do século XVI, no entendimento de Barthes, toma<br />

três direções: no protestantismo, assume a forma de evidência pessoal; no cartesianismo, de<br />

evidência racional; e, no empirismo, de evidência sensível. 367 O racionalismo, o cientificis-<br />

mo e o método cartesiano contribuem para a dispensa da retórica, na suposição de que, uni-<br />

camente pela intermediação da razão, toda verdade será plenamente revelada. Aos poucos<br />

361 Publio Ovídio Nasone (43 a.C.-17/18d.C.).<br />

362 Titus Flavius Domitianus (51-96/97 d.C).<br />

363 Cf. BARTHES, 2000, p. 18-22.<br />

364 Aurelius Augustinus.<br />

365 Cf. BARTHES, 2000, p. 22-39.<br />

366 Ver paralelo com a prática homilética no cap. I desta tese, item I.3.4.<br />

367 Cf. BARTHES, 2000, p. 40.<br />

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