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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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informação, e isto é o que dá significado a esta última” 476 . Para esse autor, a força da religi-<br />

ão da Bíblica está na riqueza dos relatos que ela contém: “os relatos fazem a religião, não os<br />

mandamentos” 477 . Os relatos são uma maneira de contextualizar a informação e de facilitar<br />

sua memorização. Entretanto, um relato não é para ser decorado palavra por palavra, antes<br />

seu segredo está na compreensão da narrativa e das lições que ele contém. Hoje, os relatos e<br />

as histórias são usados “como mídia sob diversas formas e freqüentemente de modo incons-<br />

ciente” 478 .<br />

As pessoas tendem a acreditar que o que as influencia é o discurso, entretanto “os<br />

grandes especialistas da indústria da persuasão (os publicitários, os políticos, os assessores<br />

de imagem...) evitam abertamente recorrer ao discurso” 479 . Estes preferem utilizar os rela-<br />

tos, porque é por eles que a via emotiva tende a se expressar melhor. Nos discursos os con-<br />

teúdos são expostos de maneira explícita, porém os relatos freqüentemente escamoteiam,<br />

camuflam o discurso mediante o fascínio da ação e da emoção. O relato é, portanto, um dis-<br />

curso cujas intenções ficam ocultas.<br />

Neste ponto convém fazer referência ao que Joan Ferrés chamou de “falsos mitos na<br />

autocompreensão” 480 . Tais mitos ou fatores impedem o espectador de “alcançar a lucidez na<br />

análise de si mesmo” frente aos meios de comunicação, particularmente a televisão, mas o<br />

mesmo pode suceder em relação à prédica.<br />

O primeiro fator é a ilusão de que o espectador é um “homem livre”: “não é livre o<br />

que pode fazer o que deseja se está condicionado em seus desejos.” 481 Os meios têm a capa-<br />

cidade de condicionar a vontade dos seus espectadores para que estes ajam conforme se<br />

deseja. Para conseguir isso, tanto a prédica como a mídia “jogam com os desejos e temores,<br />

com a ambição e os sentimentos de culpa dos cidadãos, canalizando seu potencial energéti-<br />

co em direção à satisfação de seus próprios interesses” 482 .<br />

476 WURMAN, 2003, p. 253.<br />

477 Id., ibid., p. 254.<br />

478 Id., ibid., p. 254.<br />

479 FERRÉS, 1998, p. 59ss.<br />

480 Id., ibid., p. 13-33.<br />

481 Id., ibid., 1998, p. 17.<br />

482 Id., ibid., p. 17.<br />

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