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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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uso da verdade” 624 , a serviço do poder para manter o que está estabelecido e impossibilitar<br />

qualquer tipo de verificação; a falsificação, pela qual “o artificial tende a substituir o autên-<br />

tico” 625 ; o segredo, isto é, a incerteza organizada em toda a parte que promove a dependên-<br />

cia de especialistas que, por sua vez, estão a serviço do sistema; a mercadoria que pode ser<br />

comprada e vendida, a que tudo e todos foram reduzidos; o saber-poder, pelo qual o saber<br />

deve tornar-se poder; a constituição de redes de influência, promoção-controle, de vigilân-<br />

cia-desinformação, no verdadeiro espírito da máfia siciliana que costuma dizer: “Quando se<br />

tem dinheiro e amigos, pode-se rir da justiça” 626 ; a loucura assumida que permite falar das<br />

loucuras de maneira igualmente louca sem que isso cause horror ou surpresa; e, finalmente,<br />

a sabotagem, pela qual “cada serviço de segurança de uma indústria particular combate a<br />

sabotagem em seu recinto e, se puder, organiza essa sabotagem na casa do concorrente” 627 .<br />

Falácia, desinformação, falsificação, segredo, mercadoria, saber-poder, redes de influ-<br />

ência, promoção-controle, vigilância-desinformação, loucura e sabotagem, são, portanto, os<br />

aspectos que realçam o perfil da sociedade contemporânea. Não parece, de fato, uma silhue-<br />

ta que naturalmente se coadunaria com a ética e o caráter da fé religiosa em geral, caso a<br />

lógica ainda tivesse alguma ingerência nesse processo. Não obstante, como parte do siste-<br />

ma, não resta alternativa, nem mesmo à religião, a não ser jogar o jogo do espetáculo dentro<br />

das regras que lhe são próprias. A eventual infração a essas regras resulta na expulsão sumá-<br />

ria do certame espetacular.<br />

A seguir, se tratará de considerar mais especificamente a práxis homilética em relação<br />

ao referencial proposto acima.<br />

624 DEBORD, 1997, p. 202.<br />

625 Id., ibid., p. 207.<br />

626 Id., ibid., p. 222.<br />

627 Id., ibid., p. 231.<br />

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