A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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“já não remete para o céu, mas abriga dentro de si sua recusa absoluta, seu paraíso ilusório.<br />
O espetáculo é a realização técnica do exílio, para o além, das potencialidades do homem; a<br />
cisão consumada no interior do homem” 819 . Ao limitar seus propósitos a si mesmo, o espe-<br />
táculo consuma uma ruptura com a eternidade e liga-se definitivamente ao efêmero.<br />
A partir das considerações sobre os campos de interação e as instâncias que exercem o<br />
poder simbólico que agrupam as igrejas, as escolas e a mídia, com destaque para o aspecto<br />
econômico que caracteriza esta última no contexto da sociedade do espetáculo, pode-se pen-<br />
sar nas implicações, em termos de finalidade e propósitos, de uma homilética que tenta in-<br />
tegrar religião e mídia.<br />
Pode-se concluir, em linhas gerais, que o propósito de uma homilética mediada é vei-<br />
cular (vender?) bens simbólicos, anunciados em discursos religiosos, quantificados e preci-<br />
ficados pela mídia. Pelo mecanismo de transferência, a presença da homilética nos meios de<br />
comunicação de massa sacraliza a mídia, e, ao mesmo tempo, pelas características inerentes<br />
ao meio, a mídia mercantiliza a homilética, valorizando (quantificando e precificando) o seu<br />
discurso. Da mesma forma que a mídia, a homilética espetacular reforça o processo de de-<br />
gradação do ser para o ter, e do ter para o parecer, no contexto religioso. Aderindo a um<br />
sistema que privilegia a emoção, a visão e a ilusão, e beneficia-se da ignorância, a homiléti-<br />
ca espetacular distancia-se do ideal dialógico e democrático da nova retórica, ou da auto-<br />
emancipação sugerida por Debord, bem como dos valores historicamente caros à tradição<br />
cristã, especificamente, e religiosa, em sentido lato.<br />
III.2.3.2 Gêneros homiléticos espetaculares: a tragédia e a comédia<br />
Uma vez que os fins do espetáculo são seus próprios meios (mídia), para atingi-los,<br />
este formata seus produtos, preferencialmente, em gêneros tipicamente espetaculares. Como<br />
se pode distinguir estruturalmente na literatura a expressão prosaica da poética, os gêneros<br />
espetaculares também podem ser didaticamente resumidos a dois: a comédia e a tragédia.<br />
De modo geral, todos os demais (humor, guerra, romance, terror, infantil, biografias, eróti-<br />
co, etc.) resultam da combinação ou derivação desses dois gêneros arquetípicos.<br />
819 DEBORD, 1997, p. 19.<br />
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