A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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Outro movimento que influenciou a práxis homilética a partir do século XVIII foi o<br />
avivamento religioso inglês. Após um período de “irreligião e imoralidade” 148 que marca-<br />
ram a igreja estabelecida da Inglaterra na primeira metade do século XVIII, teve início um<br />
movimento liderado por John Wesley (1703-1791) e George Whitefield (1714-1770) que<br />
pretendia “reformar a nação e, em particular, a igreja; para espalhar a santidade bíblica so-<br />
bre toda a terra” 149 . Na compreensão de Harwood Pattison, a doutrina formulada por Wesley<br />
não era meramente especulativa mas prática e não tratava a verdade à parte da sua aplica-<br />
ção. Portanto, o poder de sua pregação não residia no que ele pregava, mas em quem ele era.<br />
Wesley, como poucos, era capaz de relacionar conhecimento com prática, fé e vida, doutri-<br />
na e caridade, piedade e misericórdia, consciência das doutrinas essenciais e da tolerância<br />
necessária para com pessoas de outros credos e igrejas. 150<br />
Desprestigiada pela igreja oficial, a prática homilética desse movimento se notabilizou<br />
pela realocação dos púlpitos para as praças e outros lugares públicos fora das fronteiras e-<br />
clesiásticas. Também o auditório seleto dos templos foi substituído pela massa excluída pela<br />
igreja oficial. A pregação passou a ser dirigida aos pobres, aos trabalhadores das minas, aos<br />
escravos, aos prisioneiros, aos desempregados, e à multidão que vagava pelas ruas em busca<br />
de esperança e do pão cotidiano. 151<br />
A pregação de George Whitefield, entretanto, procurava muito mais provocar as emo-<br />
ções nos ouvintes. Esse modelo foi seguido por muitos pregadores e produziu avivamentos<br />
em vários lugares da Inglaterra e dos Estados Unidos. Em muitos casos, essas pregações<br />
eram acompanhadas de manifestações físicas, transes, lágrimas e exclamações por parte dos<br />
ouvintes.<br />
Quem melhor representou a tensão entre Pietismo e Iluminismo foi Friedrich Daniel<br />
Schleiermacher (1768-1834), pois “combinou piedade e filosofia, cultura e fé, o poder do<br />
148 GARVIE, 1959, p. 212.<br />
149 HEITZENRATER, Richard P. Wesley e o povo chamado metodista. São Bernardo do Campo: Editeo; Rio de<br />
Janeiro: Pastral Bennett, 1996. p. 214. Ver também RAMOS, <strong>Luiz</strong> <strong>Carlos</strong>. A prática homilética de John Wesley.<br />
Caminhando. Ano IX, n. 13, 1 semestre 2004. São Bernardo do Campo: Editeo. p. 133-152.<br />
150 Cf. PATTISON, 1903, p. 256.<br />
151 Sobre isso, ver RAMOS, <strong>Luiz</strong> <strong>Carlos</strong>. A prática homilética de John Wesley. Caminhando, v. 9, n. 13, primeiro<br />
semestre 2004. São Bernardo do Campo: Editeo, 2004. p. 133-152.<br />
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