A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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Um segundo fator é o “mito da racionalidade humana”: recorrendo a Pascal, Freud e<br />
Jung, Ferrés procura demonstrar que “os homens tendem a acreditar no que desejam acredi-<br />
tar”; e que, “quando se confrontam a emoção e a razão, normalmente é a razão que acaba<br />
por sucumbir” 483 . A racionalidade como ferramenta objetiva não passou de um fetiche do<br />
século XX 484 . A confiança na racionalidade se constitui num fator que impede a lucidez na<br />
análise dos efeitos da comunicação persuasiva, pois “a pessoa age muito menos […] movida<br />
por suas convicções, suas idéias e seus princípios, e muito mais do que pensa movida por<br />
seus sentimentos, seus desejos, seus temores” 485 . No processo comunicativo, estão em jogo<br />
as conspirações das emoções: quando os raciocínios derivam em emoções, o processo é<br />
consciente, mas não o inverso. Quando as emoções derivam em idéias, o processo é geral-<br />
mente inconsciente. Também os processos de racionalização contribuem para camuflar as<br />
razões e impedir a lucidez, pois funcionam como mecanismos de defesa. A pessoa prefere<br />
ter a razão a usá-la, por isso ela dá justificativas aparentemente racionais para suas atitudes<br />
impulsivas e emotivas. Pela racionalização pretende-se “atenuar a angústia produzida pelo<br />
fracasso, pela lesão da auto-estima” — portanto, “a racionalidade”, em muitos casos, “não<br />
seria mais do que uma ilusão” 486 .<br />
Um terceiro fator é o que Ferrés chamou de “mito da consciência”: “a pessoa vive na<br />
ingênua convicção de que controla conscientemente suas decisões e crenças” 487 . Ora, a ra-<br />
cionalidade se move na esfera da consciência, ao passo que “as emoções se movem segui-<br />
damente na esfera do inconsciente” 488 . O subconsciente funciona como uma pré-consciência<br />
que, segundo o princípio do prazer, formulado por Freud 489 , interfere nas decisões e com-<br />
portamentos mediante a tensão entre eros e thanatos, ou o ide e o superego. Esse princípio<br />
do prazer-desprazer é regido pelo pensamento primitivo 490 . O desconhecimento do meca-<br />
nismo de persuasão (racional) e de sedução (emocional) das comunicações persuasivas tor-<br />
483<br />
FERRÉS, 1998, p. 17.<br />
484<br />
Sobre isso, ver DICHTER, Ernest. Las motivaciones del consumidor. 2 ed. Buenos Aires: Columba, Sudamericana,<br />
1970.<br />
485<br />
FERRÉS, 1998, p. 18.<br />
486<br />
Id., ibid., p. 21.<br />
487<br />
FERRÉS, 1998, p. 23.<br />
488<br />
Id., ibid., p. 26.<br />
489<br />
Cf. FREUD, Sigmund. Além do Princípio do Prazer (1920). Ed. Standard Brasileira das Obras Psicológicas<br />
Complets de Sgmund Freud, v. XVIII. Rio de Janeiro: Imago. 1974.<br />
490<br />
Cf. Idem. O ego e o Id. Trad. José Octavio de Aguiar Abreu. Rio de Janeiro: Imago, 1997. 56 p. Pequena<br />
Coleção das Obras de Freud, 14.<br />
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