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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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atos simbólicos, números, nomes, cores —, a hermenêutica tem em comum com a semiótica<br />

a compreensão de que sua leitura é também produção de sentido.<br />

“De fato”, afirma Croatto, “toda leitura é a produção de um discurso, e portanto de um<br />

sentido, a partir de um texto” 305 . Assim, pode-se afirmar que a hermenêutica não é a ciência<br />

da interpretação, mas a ciência da reinterpretação. E ao se aperceber disso, leva em conta<br />

também a condição vital inegável do intérprete, cujo ato hermenêutico faz crescer o sentido<br />

do texto pela contribuição da sua própria existência como “ser no mundo”. O texto é, por-<br />

tanto, o elemento médio entre dois pólos históricos da abordagem hermenêutica: o elo entre<br />

o passado e o presente.<br />

A exposição feita até aqui pretendeu explicitar como o procedimento exegético-<br />

hermenêutico é determinante para o acontecimento homilético (querigmático). Pois, “o a-<br />

contecimento se faz ‘palavra’”, o cotidiano se faz discurso, e este “desemboca em um ‘tex-<br />

to’, o texto por sua vez reclama a palavra nova que o relê” 306 . Nesse processo sucessivo, o<br />

cotidiano inventa a palavra, “a palavra engendra o texto, e o texto a palavra” e, outra vez,<br />

essa palavra nova reinventa o cotidiano. Aqui já se pode vislumbrar nitidamente a correla-<br />

ção entre a exegese, a hermenêutica e a homilética, pois “essa relação se dá também entre a<br />

Escritura como totalidade e a palavra que proclama o querigma”, pois a “Escritura foi antes<br />

proclamação, e o é depois [...]. Em suma, a palavra se faz Escritura, a Escritura se faz pala-<br />

vra nova. Não se pode terminar nunca esse movimento”. 307<br />

II.1.3 A teologia pastoral e a homilética<br />

Finalmente, a teologia pastoral 308 — pelo desvelamento exegético de acontecimentos<br />

passados feitos texto, e a atualização de sentidos possibilitada pela releitura hermenêutica<br />

— se encarrega de aplicar a mensagem bíblica à comunidade de fé na forma de desafios<br />

305 CROATTO,1994, p. 37. (Trad. nossa).<br />

306 Id., ibid., p. 37. (Trad. nossa).<br />

307 Cf. id., ibid., p. 129. (Trad. nossa).<br />

308 Para uma discussão sobre o emprego das expressões “teologia prática”, “teologia pastoral” e “teologia da<br />

práxis”, ver FARRIS, James. O que é teologia prática? Caminhando, v. 6, n. 8, julho 2001. São Bernardo do<br />

Campo: Editeo, 2001. p. 83-99.<br />

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