A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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portam a Anselmo (1033-1109) e Lanfranc (m. 1089), se dá com Tomás de Aquino (c.<br />
1224-1227). Para Aquino “o estudo da filosofia não se destina a nos fazer saber o que os<br />
homens pensaram, mas em que realmente consiste a verdade” 90 . E para que a verdade seja<br />
estabelecida e compreendida, a escolástica entende que é necessário apoiar-se nas razões<br />
que procuram a raiz da verdade e no concurso das “autoridades” 91 . Não dispensa, portanto,<br />
que se procure e se manifeste a razão intrínseca do que diz a “autoridade” invocada, caso<br />
contrário a conclusão não merecerá o nome de “científica”.<br />
Nos primeiros séculos, cabia ao bispo a responsabilidade da pregação homilética; em<br />
algumas regiões, e somente em algumas, eventualmente, os presbíteros também podiam<br />
pregar. Caso o presbítero estivesse impossibilitado de pregar, por motivo de doença ou simi-<br />
lar, “os diáconos devem ler para o povo, numa linguagem acessível, as homilias dos santos<br />
padres” 92 . A razão para que os sermões fossem lidos ou elaborados tendo como base cate-<br />
quética a repetição das verdades já expressas no Credo e na oração do Pai-Nosso, e a partir<br />
da repetição dos padres da igreja, se deve ao modelo escolástico próprio do período e ao<br />
“escasso nível de preparação doutrinal dos presbíteros” e dos demais líderes religiosos da<br />
época. 93<br />
Crisóstomo e Agostinho não tiveram sucessores imediatos e à altura 94 e, no período<br />
escolástico, a decadência da teologia coincide com a da pregação. Os valores que, em outras<br />
épocas, haviam garantido a vitalidade homilética foram abandonados. Rompeu-se o vínculo<br />
com a liturgia celebrada, abandonou-se a busca de inspiração no texto sagrado, e a simplici-<br />
dade deu lugar a discursos cada vez mais “floridos”. Os sermões se ocupam de temas espe-<br />
culativos e assemelham-se mais a tratados teológicos. 95<br />
A liturgia passou a ser especialmente solenizada e espetacularizada, como demonstra a<br />
Ordo Romanus Primus (c. 700) 96 , tornando-se mais extensa e importante que o sermão; este,<br />
por sua vez, foi relegado a um segundo plano ou aos “bastidores”. 97<br />
90<br />
AQUINO, Tomás de. Summa teológica. São Paulo: Loyola, 2001, v. 1. p. 32.<br />
91<br />
Cf. Id., ibid., p. 32.<br />
92<br />
BOROBIO, 1990, p. 101.<br />
93<br />
Cf. Id., ibid., p. 101.<br />
94<br />
Cf. PATTISON, 1903. p. 73.<br />
95<br />
Cf. Id., ibid., p. 101-102.<br />
96<br />
Ver WHITE, James F. Documents of Christian worship: descriptive and interpretive sources. Westminster:<br />
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