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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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sutileza desse antigo sistema retórico, da modernidade dessa ou daquela de suas proposi-<br />

ções” 316 . Por essa razão, se procurará retomar tais princípios retóricos para, mais à frente, no<br />

terceiro capítulo, confrontá-los com a prática homilética presente na mídia.<br />

Entende-se por retórica a metalinguagem cuja linguagem-objeto é o “discurso”. Nas<br />

palavras de Aristóteles (entre colchetes estão destacados alguns dos termos usados no texto<br />

original grego que podem ajudar a ampliar o horizonte da tradução):<br />

111<br />

sua tarefa não consiste em persuadir [pei=sai = também tem o sentido<br />

de “prevalecer sobre”, “vencer”], mas em reconhecer [i)dei=n = “ver”,<br />

“perceber”] os meios de persuasão [piqana\] mais pertinentes para cada<br />

caso, como também ocorre em todas as outras artes [te/xnaij] [...], o<br />

próprio dessa arte é reconhecer [i)dei=n] o convincente e o que parece<br />

[faino/menon] ser convincente. 317<br />

A retórica não se ocupa, portanto da ação de persuadir, mas do reconhecimento dos<br />

meios adequados para persuadir. O conhecimento de tais meios é considerado por Aristóte-<br />

les como indispensável àqueles que proferem discursos públicos nas assembléias políticas,<br />

nos eventos celebrativos e nos tribunais judiciários.<br />

“Como tudo na literatura grega, a oratória, ou retórica, teve origem em Homero” 318 ,<br />

mas ganhou importância quando as cidades-estado gregas passaram a se autogovernar. A<br />

assembléia se constituiu no principal órgão onde as leis eram feitas, interpretadas e aplica-<br />

das. Quem tinha assento nessas assembléias eram os cidadãos que, mediante o uso da pala-<br />

vra e da argumentação persuasiva, procuravam proteger seus interesses e suas propriedades.<br />

Assim, “uma certa proficiência em oratória e argumentação passou a ser uma necessidade<br />

política e prática” 319 .<br />

Portanto, a discussão sobre o lugar da retórica no contexto de uma civilização diz res-<br />

peito ao problema político da liberdade de expressão. Os estudos de I. F. Stone 320 sobre o<br />

uso de palavras e expressões que, no mundo antigo, denotem essa idéia, demonstram que<br />

316<br />

BARTHES, 2001, p. 3.<br />

317<br />

ARISTOTLE, Rhetoric (ed. W. D. Ross). Book 1 [section 14].<br />

318<br />

STONE, I. F. [Isidor Feinstein]. O julgamento de Sócrates. Trad. Paulo Henriques Britto. São Paulo: Companhia<br />

das Letras, 1988. p. 102.<br />

319<br />

Id., ibid., p. 102.<br />

320<br />

Para aprofundar a discussão sobre a liberdade de expressão entre os gregos, ver o cap. 17 “As quatro palavras”<br />

in STONE, 1988, p. 218-227.

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