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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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quando a retórica não mais teve como objeto apenas os discursos falados [...] mas também,<br />

e depois quase exclusivamente, as ‘obras’ (escritas)” 391 . Para os propósitos desta tese, a ac-<br />

tio e a memoria não poderão ser omitidos.<br />

II.2.1.1 Inventio (lat.) ou Euresis (gr.)<br />

A inventio diz respeito mais ao processo de descoberta do que à invenção do discurso.<br />

Parte do pressuposto de que o discurso já existe, basta reencontrá-lo. A inventio é mais um<br />

processo de extração pela via argumentorum, do que de criação. Embora inclua o sentido<br />

moderno de invenção, como criação, esta se dá a partir de um inventário das possibilidades<br />

argumentativas elaborado pelo orador. 392 Esse caminho ou método argumentativo se bifurca<br />

em duas vias, uma lógica e outra psicológica. A via lógica se encarrega de reunir provas<br />

objetivas, extrínsecas e intrínsecas à matéria em discussão, capazes de convencer o interlo-<br />

cutor pelo concurso do raciocínio, da racionalidade. A via psicológica, por sua vez, consiste<br />

em mobilizar provas subjetivas e morais, segundo o humor (paixões) do seu destinatário,<br />

com o objetivo de comover, sem que se pense a mensagem probatória em si. Daí, conclui-se<br />

que a persuasão envolve arrazoados lógicos, que dependem da qualidade das provas, e de<br />

arrazoados psicológicos, que dependem da habilidade do orador. 393<br />

Pela via dos arrazoados lógicos, os argumentos são construídos mediante a indução e<br />

a dedução — para Aristóteles, não há outros meios fora esses. A indução retórica é o para-<br />

deigma ou exemplum — isto é, o raciocínio analógico — e tem natureza narrativa e imagéti-<br />

ca (tanto as fictícias, como parábolas e fábulas, quanto as históricas e reais). A dedução re-<br />

tórica, por seu turno, são os argumenta que se constituem na forma de entimemas. “Para os<br />

aristotélicos, o entimema é um silogismo fundamentado em verossimilhanças ou em sinais”;<br />

é um “silogismo retórico” que, no dizer de Umberto Eco, parte de premissas prováveis aber-<br />

tas à discussão e à refutação e não de primeiros princípios incontroversos, como os princí-<br />

391<br />

BARTHES, 2001, p. 49.<br />

392<br />

Sobre o duplo sentido da invenção retórica, ver REBOUL, 2004, p. 54.<br />

393<br />

Sobre o papel da arguentação lógica e da psicológica no processo retórico da inventio, ver BARTHES, 2001,<br />

p. 51-52.<br />

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