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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Além do empobrecimento e da sujeição, dá-se “a supressão da personalidade” pois es-<br />

ta “acompanha [...] as condições da existência submetida às normas espetaculares” 619 . Tais<br />

condições estão relacionadas ao afastamento da possibilidade de experiências autênticas.<br />

Além disso, essa existência exige “uma série de adesões constantemente decepcionantes a<br />

produtos ilusórios” 620 . Para subsistir a essa realidade, as únicas maneiras seriam, segundo<br />

Debord, recorrer às drogas, para conformar-se a ela, ou à loucura, para evitá-la.<br />

Infere-se, daí, que uma religião espetacular está marcada igualmente pelo empobreci-<br />

mento lógico e dialógico, pela sujeição ideológica e pela anulação psicológica. A religião<br />

tornou-se refém do espetáculo ao incorporar-se a ele, ou ao ser incorporado por ele. O que<br />

resta dela é sua mera representação. A uma tal religião — a dos sinais/ícones depreciados da<br />

vida que sempre se contradiz — só se pode aderir mediante a sedação (não confundir com<br />

sedução) ou o enlouquecimento: uma religião “ópio do povo” — aquela tão criticada por<br />

Karl Marx. 621<br />

III.1.10 A “máfia” do espetáculo<br />

Novamente, se recorrerá aqui à idéia de caricatura que, mediante a observação e in-<br />

vestigação indiciária, será útil na percepção dos traços mais acentuados, mas tantas vezes<br />

despercebidos, da sociedade moderna. 622 Não se trata de retratá-la tal como é, mas de acen-<br />

tuar os elementos que mais definem o seu espírito. Conquanto um tanto radical, a caracteri-<br />

zação de Debord ajuda a identificar as principais características dessa sociedade — justa-<br />

mente aquelas que a distingue das sociedades de outros tempos.<br />

Debord oferece um “retrato da sociedade do espetáculo” 623 , cujos principais traços são<br />

muito próximos aos da Máfia italiana, quais sejam: a falácia, que reúne as características do<br />

impostor, do sedutor, do insidioso e do capcioso; a desinformação, entendida como “o mau<br />

619<br />

DEBORD, 1997, p. 191.<br />

620<br />

Id., ibid., p. 191.<br />

621<br />

Cf. MARX, Karl, ENGELS, Friedrich. A ideologia alemã. São Paulo: Martins Fontes, 2001. 119 p. (Classicos).<br />

622<br />

Sobre investigação indiciária, ver: GINZBURG, Carlo. Mitos, emblemas, sinais: morfologia e história. p.<br />

143-206.<br />

623<br />

Cf. DEBORD, 1997, p. 200-237.<br />

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