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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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lizadora que, pela lógica das emoções, “consiste em transferir para o conjunto os valores da<br />

dimensão fascinante selecionada” 678 .<br />

No campo da religião, um tipo de discurso tipicamente metonímico é o da teologia da<br />

prosperidade, segundo a qual, ser bem sucedido financeiramente sintetiza a totalidade da<br />

mensagem evangélica. 679 A parte é tomada pelo todo, ou seu inverso, o todo é reduzido à<br />

uma de suas ínfimas partes. O paralelo aristotélico seria a argumentação por entimema, que<br />

é o tipo de raciocínio que pretende persuadir não pela apresentação das causas primeiras,<br />

mas apenas por algum sinal evidente ao senso comum dessa verdade. Esse tipo de argumen-<br />

to — a entimemática — conquanto tenha seus méritos, pode se desvirtuar facilmente em<br />

falácias, uma vez que o sinal é sempre e somente sinal, e não causa primeira. 680<br />

Aqui, entram o que Joan Ferrés chamou de estratégia da sedução da mídia que, para<br />

alcançar seus objetivos, recorre a elementos sedutores tais como o narcisismo, o mecanismo<br />

de transferência, o fascínio das estrelas e os estereótipos.<br />

Primeiramente, considere-se o narcisismo. 681 Lembrando os postulados de Freud, Fer-<br />

rés chama a atenção para o fato de que, no fascínio, o objeto ocupa o lugar ideal do eu, e<br />

que em todo elemento sedutor o sujeito seduzido encontra a si mesmo: “no fundo de toda<br />

experiência sedutora, há, pois, uma experiência narcisista” 682 . Por conseguinte, a mídia es-<br />

petacular, como a televisão, por exemplo, é narcisista, porque sedutora, ou sedutora, porque<br />

narcisita: “o fascínio que os personagens e as situações exercem sobre o espectador provém<br />

de que o põe em contato com o mais profundo e oculto de suas tensões e pulsões, de seus<br />

conflitos e ânsias, de seus desejos e temores”. Retoma-se aqui a questão do espetáculo como<br />

espelho, mas “não tanto como espelho da realidade externa representada quanto da realidade<br />

interna de quem a vê” 683 .<br />

Ora, “a força da sedução é a força da transferência [grifo nosso]” 684 , isso é, o fascínio<br />

está no processo associativo pelo qual as imagens adquirem a significação e a força daque-<br />

678 FERRÉS, 1998, p. 69.<br />

679 Sobre a teologia da prosperidade, ver CAMPOS, 1997, p. 362-371. Ver, ainda, ROMEIRO, 2005. 250 p.<br />

680 Sobre a entimemática, ver IDE, 1997. p. 136-178. Ver também BARTHES, 2001.<br />

681 Para uma abordagem da perspective da psicologia, ver PRADO, Mario Pacheco A. Narcisismo e estados de<br />

entranhamento. 2. ed. Rio de Janeiro: Imago, 1988. 226 p. (Serie analytica).<br />

682 FERRÉS, 1998, p. 71.<br />

683 Id., ibid., 1998, p. 71.<br />

684 Id., ibid., p. 72.<br />

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