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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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II.2.3 Mecanismos de sedução do relato<br />

147<br />

Uma imagem vale mil palavras...<br />

mas tente dizer isso com imagens!<br />

(Salomão Schvartzman)<br />

Os relatos fazem a religião,<br />

não os mandamentos.<br />

(Richard Saul Wurman)<br />

Como desdobramento das duas grandes vias da argumentação persuasiva — a lógica e<br />

a psicológica —, se pode estabelecer uma diferença conceitual entre discurso e relato, con-<br />

forme proposto pelo especialista em comunicação e educação Joan Ferrés 472 . Para esse au-<br />

tor, o discurso se enquadra na via racional, ao passo que o relato 473 , na emocional. Enquanto<br />

a via racional atua por argumentação e vai da causa ao efeito, ou do efeito à causa, a via<br />

emotiva é regida por mecanismos de transferência. Isto é, a via emotiva “atua por simples<br />

contigüidade, por proximidade, por semelhança, por simultaneidade, por associação emotiva<br />

ou simbólica” — inscreve-se, portanto, no campo da poética. 474 A primeira pretende con-<br />

vencer por meio de argumentos racionais; enquanto a via emotiva “pretende seduzir, atrair o<br />

receptor pelo fascínio”. A via racional se dá de maneira consciente, “mediante uma atitude<br />

de reflexão, de análise e de compreensão”. Ao passo que a via emotiva é inconsciente e com<br />

freqüência é irracional, ilógica ou alógica. Ferrés parte do pressuposto de que as emoções<br />

têm maior força que os raciocínios, e que quando as duas vias entram em conflito, são as<br />

emoções que prevalecem e acabaram por deter “a hegemonia do processo socializador”. 475<br />

Conquanto a análise de Ferrés se refira especificamente à linguagem televisiva, os mesmos<br />

conceitos podem ser aplicados à comunicação oral, inclusive à prédica.<br />

Relatos e histórias são veículos para “dar vida a fatos e números”, pois, segundo<br />

Wurman, “permitem que a informação seja gravada na memória. Incentivam a aplicação da<br />

472 FERRÉS, 1998, p. 91-112.<br />

473 “Relato”, aqui é utilizado no sentido da rubrica comunicacional: “fala que acompanha, comenta ou explica<br />

uma seqüência de imagens que expõem um acontecimento ou uma série deles”, “o texto dessa fala” ou uma<br />

“seqüência de imagens que expõem ou mostram um acontecimento ou uma série deles”. Cf. HOUAIS, 2001.<br />

474 Sobre o relato como tarefa poética, ver SILVERSTONE, 2002, p 79-93.<br />

475 As citações (indicadas entre aspas) foram tomadas de FERRÉS, 1998, p. 59ss.

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