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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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uma de suas formas, segundo as partes; ação apresentada, não com a ajuda<br />

de uma narrativa, mas por atores, e que suscitando a compaixão e o<br />

terror, tem por efeito obter a purgação dessas emoções. 822<br />

Notem-se os elementos que denotam a essência da tragédia: primeiramente a imitação,<br />

que implica em ação (encenação, diálogo, música e pensamento); em segundo lugar, o estilo<br />

agradável, que pressupões ritmo, harmonia e música (o canto, para Aristóteles, é o principal<br />

“condimento” do espetáculo 823 ), bem como a estruturação e ordenação em partes ou subuni-<br />

dades a serviço do conjunto; a terceira parte da definição destaca o papel das emoções que<br />

suscitam a compaixão e o terror e, portanto, conduzem a tragédia ao seu propósito último, o<br />

ekstasis, a purgação das emoções.<br />

A homilética trágica, portanto, começa pela imitação, “não de homens, mas de ações,<br />

da vida, da felicidade e da infelicidade” 824 . A ação trágica deve “ser composta de tal manei-<br />

ra que o público, ao ouvir os fatos que vão passando, sinta arrepios ou compaixão” 825 , ensi-<br />

nava Aristóteles. A homilética trágica deve, ainda, tornar-se agradável aos seus espectado-<br />

res, o que se obtém por meio de “condimentos”, dentre os quais a música se destaca (na<br />

homilética convencional, são as figuras de linguagem que exercem esse papel) — na homi-<br />

lética trágica, a música não pode faltar, não somente como preparação ou para a conclusão<br />

do acontecimento homilético, mas inclusive durante, como trilha sonora e parte da engenha-<br />

ria das emoções.<br />

O uso da música pelos pregadores e animadores religiosos da mídia é notório, como<br />

comenta Vera Silva:<br />

822 ARISTÓTELES, [s.d.], p. 248.<br />

823 Id., ibid., p. 249.<br />

824 Id., ibid., p. 248.<br />

825 ARISTÓTELES, [s.d.], p. 260.<br />

As músicas são bem dançantes, cantadas por pessoas risonhas e de boa<br />

voz. O tratamento acústico é muito bom. Os fiéis dançam, cantam, choram<br />

controlados pela música que ouvem e pelas palavras de ordem do<br />

cantor ou do pregador. Apenas as letras das músicas e a muita roupa que<br />

usam diferenciam o profano do sagrado. Mas sempre a música, usada<br />

para conduzir à emoção por movimentos e ritmos repetitivos. Nenhuma

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