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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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nam o indivíduo alvo dessa comunicação, vulnerável às suas influências inadvertidas. Iludi-<br />

do de sua consciência, o sujeito intercomunicante não se dá conta de que o que está sendo<br />

de fato determinante em suas escolhas e convicções é justamente o que subjaz à consciên-<br />

cia: o inconsciente.<br />

Decorrente do exposto, surge um quarto fator, o “mito da percepção objetiva”: “a per-<br />

cepção é forçosamente seleção” 491 e seleção é organização. Ora, “é a mente que realiza a<br />

operação de estruturar as formas, conferindo-lhes significação” 492 . Os novos conhecimentos<br />

são sempre precedidos por conhecimentos prévios que determinam a maneira como aqueles<br />

são apropriados. A isso se pode chamar ideologia — “o que faz ver o mundo é também o<br />

que nos impede vê-lo” 493 . “Perceber é”, pois, “antes de tudo selecionar e interpretar.” 494 e<br />

esse processo está condicionado por padrões culturais e emocionais que são na maioria das<br />

vezes inconscientes.<br />

À luz dessas considerações, o discurso homilético, como toda comunicação persuasi-<br />

va, deve ser entendido como um fenômeno ideológico, repleto de condicionantes culturais e<br />

emocionais que, com muita freqüência, independem da consciência ou intencionalidade dos<br />

intersujeitos comunicantes. A comunicação é tanto mais persuasiva quanto mais desperce-<br />

bida for sua intenção e quanto mais desapercebido apanhar o interlocutor.<br />

É precisamente nessa capacidade de tornar invisíveis as implicações ideológicas e éti-<br />

cas dos argumentos, pela via das emoções, que está a força persuasiva do relato. Por ser<br />

mais divertido, o relato facilita a receptividade por parte do interlocutor, não desperta recei-<br />

os, nem ativa mecanismos de defesa — “os relatos fascinam porque, além de satisfazer ne-<br />

cessidades de fabulação e de fantasia, incidem no âmbito das emoções” 495 .<br />

O relato tem a potência de fazer com que os discursos sejam considerados relevantes<br />

para sua audiência mediante a construção de imagens e a criação de cenários que sejam per-<br />

cebidos pelos interlocutores como verossímeis e desejáveis. Para Ferrés, a razão porque a<br />

491<br />

FERRÉS, 1998, p. 27.<br />

492<br />

Id., ibid., p. 27.<br />

493<br />

DEBRAY, Régis. Vida y muerte de la imagen: Historia de la mirada em Occidente. Barcelona: Paidós, 1994.<br />

p. 300.<br />

494<br />

FERRÉS, 1998, p. 28.<br />

495<br />

Id., ibid., p. 28.<br />

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