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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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é aquele que “sobrepassa as faculdades críticas do intelecto e da razão e toma de surpresa o<br />

ouvinte que eventualmente poderia estar completamente antipático ao que está sendo di-<br />

to” 87 .<br />

Cultura geral, conhecimento dos textos bíblicos e de autores clássicos, conhecimento<br />

dos princípios da gramática e da retórica, bem como da exegese bíblica (com os limites da<br />

época, naturalmente, pois a noção de exegese era diferente do que a modernidade consagrou<br />

por meio dos métodos histórico-críticos), traduzidas num discurso acessível e apaixonado,<br />

proferido no contexto celebrativo da comunidade cristã, fizeram de pregadores como Jerô-<br />

nimo, Ambrósio e Agostinho, referência homilética para as futuras gerações de pregadores<br />

cristãos.<br />

I.3.4 A pregação na Idade Média: uma homilética mendicante<br />

O período de nove séculos que formam a Idade Média, que vai desde a queda do Im-<br />

pério Romano (séc. V), até o nascimento do mundo moderno (séc. XV), é marcado pela<br />

propagação do cristianismo por toda a Europa. Nele se dá a transição do fim da Patrística e<br />

o começo da Escolástica. 88<br />

A Idade Média foi marcada por um tipo de racionalidade muito peculiar, por um lado,<br />

e por uma mística inusitada, por outro. A Escolástica, que significa “filosofia da escola”,<br />

em sentido próprio, é a filosofia cristã que, nos primeiros séculos da Idade Média, tinha co-<br />

mo problema fundamental levar o indivíduo a compreender a verdade revelada, por meio do<br />

exercício da atividade racional. Entretanto, a Escolástica não confia apenas nas forças da<br />

razão para exercer sua tarefa, mas, segundo Abagnano, chama em seu socorro a tradição<br />

religiosa ou filosófica, recorrendo às chamadas auctoritates. Isto é, o recurso à autoridade é<br />

procedimento típico da investigação escolástica que, amiúde, apela para a “decisão de um<br />

concílio, uma máxima bíblica, a sententia de um padre da Igreja ou mesmo de um grande<br />

filósofo pagão, árabe ou judaico” 89 . O auge da teologia escolástica, cujos fundamentos re-<br />

87 Cf. Id., ibid., p. vii (tradução nossa).<br />

88 Cf. JUNGMANN, J. A. Herencia litúrgica y actualidade pastoral apud BOROBIO, 1990, p. 84-85.<br />

89 Cf. ABBAG<strong>NA</strong>NO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2000. p. 344.<br />

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