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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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contradizer suas teses, esse lapso de vinte anos serviu para confirmar e ainda para demons-<br />

trar que o espetáculo tornou-se ainda mais poderoso do que antes.<br />

Nas palavras de Debord, “a mudança de maior importância, em tudo o que aconteceu<br />

há vinte anos, reside na própria continuidade do espetáculo” e essa importância decorre “do<br />

fato de a dominação espetacular ter podido educar uma geração submissa a [sic.] suas<br />

leis” 593 .<br />

Curiosamente, o poder do espetáculo é despótico e tende a indignar-se “quando vê<br />

constituir-se, sob seu reino, uma política-espetáculo, uma justiça-espetáculo, uma medicina-<br />

espetáculo, [uma religião-espetáculo] ou outros tantos surpreendentes ‘excessos midiáti-<br />

cos’” 594 . Não raro, vê-se uma bizarra “pseudo-autocrítica” espetacular quando instâncias do<br />

próprio universo espetacular representam sua indignação diante da teatralização de políti-<br />

cos, magistrados, cientistas, religiosos, etc. — todos estes, filhos bastardos dos mesmos<br />

pais, ou vassalos do mesmo suserano. É por isso que Debord define: “O espetáculo nada<br />

mais seria que o exagero da mídia”. 595<br />

Há três formas de poder espetacular, para Debord, sob os quais a modernidade se cur-<br />

va: a forma concentrada, a difusa e a do espetacular integrado. A primeira forma destaca a<br />

ideologia concentrada em torno de uma personalidade ditatorial, seja nazista ou stalinista. A<br />

segunda representa a americanização do mundo, por instigar os assalariados a escolherem<br />

livremente entre grande variedade de mercadorias novas. A terceira forma, a do espetacular<br />

integrado, constitui-se pela combinação das duas anteriores, e na base de uma vitória da que<br />

se mostrou mais forte, mais difusa, cuja tendência é impor-se mundialmente. 596 Isso porque<br />

593 DEBORD, 1997, p. 171-172.<br />

594 Id., ibid., p. 171.<br />

595 Id., ibid., p. 171.<br />

596 Cf. Id., ibid., p. 172.<br />

597 Id., ibid., p. 173.<br />

181<br />

O sentido final do espetacular integrado é o fato de ele se ter integrado<br />

na própria realidade à medida que falava dela e de tê-la reconstruído ao<br />

falar sobre ela. [...] Quando o espetacular era concentrado, a maior parte<br />

da sociedade periférica lhe escapava; quando era difuso, uma pequena<br />

parte; hoje, nada lhe escapa. O espetáculo confundiu-se com toda a realidade,<br />

ao irradiá-la. 597

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