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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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nar uma grande lista de casos particulares para se obter uma regra geral. Bastaria um único<br />

ou uns poucos casos, bem escolhidos e representativos da matéria em questão, para demons-<br />

trar a probabilidade da conclusão — trata-se do argumento analógico, que se apresenta co-<br />

mo uma “indução fraca” 463 , pois baseia-se numa amostragem muito reduzida.<br />

II.2.2.2 Argumentação psicológica<br />

A outra via, a da argumentação psicológica, tem como função persuadir por meio da<br />

sensibilização das paixões do interlocutor. O foco não recai sobre as provas em si, mas so-<br />

bre o humor do público e a interação deste com o orador. Aristóteles mais uma vez distin-<br />

gue dois tipos de argumentos sensibilizadores: os argumentos éticos e os patéticos. Por sua<br />

vez, os argumentos éticos, conforme sintetizou Dirce de Carvalho em sua tese de mestrado<br />

sobre a homilia 464 , podem ser agrupados em três classes de conteúdos — todos eles relacio-<br />

nados com a pessoa do orador —, são elas: bom senso, bom caráter e boas intenções. Por<br />

meio desses expedientes, o orador procura projetar uma imagem simpática de si mesmo com<br />

vistas a estabelecer uma ligação afetiva com o receptor (voltar-se-á aos argumentos éticos<br />

em II.2.2.3).<br />

Os argumentos patéticos, por seu turno, têm em mira o receptor, e consistem de ape-<br />

los emocionais que procuram atingi-lo em seus sentimentos, princípios e crenças. Aristóte-<br />

les dedica todo o Livro II de sua Retórica para tratar da questão de como interagir a partir<br />

das paixões dos ouvintes de tal forma a beneficiar-se disso, quer seja pela cooptação de seus<br />

sentimentos, quer seja pela possibilidade de redirecionar-lhes os humores. O orador deve,<br />

então, levar em conta o pathos do público ao enunciar o seu logos, pois a compreensão des-<br />

te será determinada por elementos bastante subjetivos, tais como a cólera, a calma, o amor e<br />

o ódio, o temor e a confiança, a vergonha e a impudência, o favor, a compaixão, a indigna-<br />

ção, a inveja, a emulação e o desprezo. 465<br />

463 Cf. IDE, Pascal. A arte de pensar. Trad. Paulo Neves. 2 ed. São Paulo, 2000. 299 p. Ferramentas.<br />

464 Ver nota 7 em CARVALHO, Dirce de. Homilia: a questão da linguagem na comunicação oral. 2 ed. São<br />

Paulo: Paulinas, 1993. p. 94-96. Coleção comunicar.<br />

465 Todas essas “paixões”, são tratadas em ARISTÓTELES. 2000, 73 p.<br />

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