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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Por não ter como referencial o plano da lógica, ela comporta as contradições do uni-<br />

verso espetacular — “pois dentro de uma imagem é possível justapor sem contradição qual-<br />

quer coisa” 609 . A imagem soluciona o problema das contradições e facilita a dissolução das<br />

tensões lógicas. “O discurso espetacular faz calar”, portanto, “tudo o que não lhe con-<br />

vém” 610 . Uma vez que “a lógica só se forma socialmente pelo diálogo” 611 , o discurso espe-<br />

tacular é “ilógico”, ou pelo menos não-lógico, e “como já ninguém pode contradizê-lo, o<br />

espetáculo tem o direito de contradizer a si mesmo”, inclusive “de retificar seu passado” 612 .<br />

Fazendo calar, o espetáculo liqüída com o diálogo. 613 Debord refere-se ao fato de que<br />

a própria conversação “já está quase extinta”. Além da falência do diálogo, faz uma alusão<br />

irônica ao abandono da leitura pela sociedade espetacular. A leitura seria “a única capaz de<br />

dar acesso à vasta experiência humana antiespetacular” 614 . E sentencia: “em breve também<br />

estarão mortos muitos dos que sabiam falar”, isso porque “o discurso apresentado no espe-<br />

táculo não deixa espaço para resposta” 615 .<br />

Trata-se de um empobrecimento e de uma subjugação ideológica do mundo, pois “o<br />

aumento na quantidade das imagens levou à diminuição de sua qualidade 616 ; e “o indivíduo<br />

que foi marcado pelo pensamento espetacular empobrecido [...] coloca-se de antemão a ser-<br />

viço da ordem estabelecida, embora sua intenção subjetiva possa ser o oposto disso” 617 . O<br />

espetáculo passa a ser a única linguagem conhecida. O indivíduo “pode querer repudiar essa<br />

retórica, mas vai usar a sintaxe dessa linguagem” 618 . Em uma palavra, o superávit do simu-<br />

lacro (bens simbólicos) implica no déficit do real.<br />

609<br />

DEBORD, 1997, p. 188.<br />

610<br />

Id., ibid., p. 188.<br />

611<br />

Id., ibid., p. 189.<br />

612<br />

Id., ibid., p. 188.<br />

613<br />

Quem organiza a linguagem domesticadora do mundo? Sobre isso ver: FREIRE, Paulo. A pedagogia dos<br />

oprimidos. p. 76-77. Ver também: GRAMSCI, Antonio. Os intelectuais e a organização da cultura. Trad.<br />

<strong>Carlos</strong> Nelson Coutinho. 4 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1982. 244 p. (Coleção perspectivas do<br />

homem. Série filosofia, 48).<br />

614<br />

DEBORD, 1997, p. 189.<br />

615<br />

Id., ibid., p. 189.<br />

616<br />

Cf. GABLER, 2000, p. 22.<br />

617<br />

DEBORD, 1997, p. 191.<br />

618<br />

Id., ibid., p. 191.<br />

184

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