A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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II.1.3.2 A homilética e a nova retórica<br />
Em contrapartida à idéia da morte da retórica, ressurgem trabalhos de fôlego. E parti-<br />
cularmente um autor contemporâneo tem a pretensão de propor uma Nova Retórica: Chaïm<br />
Perelman 374 , que foi professor na Université Libre de Bruxelles, e é considerado um dos<br />
maiores filósofos do direito do século XX. Em 1945, inicia uma vasta obra de filosofia jurí-<br />
dica que valoriza a antiga retórica. Por quarenta anos publica numerosos artigos que tratam<br />
da retórica e da sua relação com a linguagem, com a lógica e com o conhecimento de modo<br />
geral. Perelman se empenha em procurar restaurar o lugar da retórica na história da filosofi-<br />
a, tão amiúde negado. Seus principais escritos sobre o tema foram reunidos no livro Rheto-<br />
riques (Retóricas 375 ), publicado em Bruxelas, na Bélgica, em 1989, e no Brasil em 1997.<br />
Perelman, segundo o principal estudioso e continuador do seu pensamento, “desenvolveu<br />
uma teoria de argumentação e uma concepção de justiça que representam uma das contribu-<br />
ições mais importantes para o pensamento contemporâneo” 376 .<br />
Umberto Eco, em seu Tratado geral de semiótica, faz referência ao trabalho de Pe-<br />
relman: “Nas últimas décadas, a chamada ‘nova retórica’ (Perelman, 1958) confinou defini-<br />
tivamente os discursos apodíticos aos sistemas axiomatizados e reconduziu sob a voz ‘retó-<br />
rica’ todos os outros tipos de discurso, desde o filosófico até o político.” 377 Perelman evi-<br />
denciara, assim, que<br />
122<br />
todos os raciocínios humanos a respeito de fatos, decisões, crenças, opiniões<br />
e valores já não são considerados como obedientes à lógica de<br />
uma Razão Absoluta, mas são vistos em seu comprometimento efetivo<br />
com elementos efetivos, avaliações históricas e motivações práticas. 378<br />
Isto contribui para remover o pejo de ciência da fraude ou da bajulação, com o qual<br />
alguns julgavam a retórica, passando esta a se constituir em técnica da interação discursiva<br />
razoável, pois,<br />
374<br />
Principais obras de Perelman traduzidas ao português: PERELMAN, Chaïm. Retoricas. Trad. Maria Ermantina<br />
de Almeida Prado Galvão. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. 417 p. (Justica e direito). PERELMAN,<br />
Chaim; OLBRECHTS-TYTECA, Lucie. Tratado da argumentaço: a nova retórica. Trad. Maria Ermantina<br />
Galvão Gomes Pereira. São Paulo: Martins Fontes, 1996. 653 p.<br />
375<br />
PERELMAN, 1999, 417 p.<br />
376<br />
MANELI, 2004, 220 p.<br />
377<br />
ECO, 2000, p. 234-235.<br />
378<br />
Id., ibid., p. 234-235.