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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Para Maneli, finalmente “o pluralismo encontrou a metodologia que lhe faltava”, pois<br />

“a metodologia retórica é consistentemente pluralista”: não exclui a possibilidade da verda-<br />

de se encontrar em diferentes concepções, pois “a idéia geral da Nova Retórica é considerar<br />

elementos razoáveis em todas as ideologias” 533 .<br />

Além de pluralista, portanto, essa metodologia é humana e razoável. Propõe como le-<br />

ma a máxima: in dubio pro iuribus hominis (em caso de dúvida, decida em favor dos direi-<br />

tos humanos). Pois “essa é a regra retórica básica da interpretação da lei” 534 .<br />

À luz disso, qual deveria ser o propósito ou o objetivo da tarefa homilética, senão<br />

também defender a razão e a tolerância, alinhadas a uma filosofia da liberdade, da justiça, e<br />

da igualdade; cujas bases ontológicas e epistemológicas sejam, tanto quanto possível, livres<br />

de inferências dogmáticas e de pretensões absolutistas. 535<br />

Concluindo este capítulo, pode-se afirmar que, a rigor, um discurso tem duas partes: a<br />

enunciação e a demonstração. 536 Na homilética, a primeira é chamada de proposição e a<br />

segunda, argumento. Bastariam estas duas partes se o orador tivesse diante de si um público<br />

ideal, mas Aristóteles nos lembra que o que se tem, de fato, são pessoas reais: desatentas,<br />

preocupadas, distraídas, cansadas, preconceituosas, etc. Daí a necessidade de preâmbulos e<br />

epílogos, de elementos racionais e psicológicos, de interação e confrontação.<br />

Este capítulo pode ser sintetizado na seguinte afirmação: a prédica é, a um só tempo,<br />

memória, presença e esperança. A homilética é a ciência que trata de fundamentar e prover<br />

os meios para que o propósito da prédica seja alcançado. Para isso, leva em conta os aspec-<br />

tos lógicos, psicológicos e éticos do processo comunicacional.<br />

É sobre este último aspecto, o ético, que recai o grande desafio da prática homilética<br />

contemporânea. Permanece num horizonte distante a esperança de uma prática homilética<br />

dialógica, construtiva e democrática. Como a sociedade contemporânea, espetacularizada e<br />

espetacularizante, reage a essa homilética da memória, da presença e da esperança? Esta é a<br />

questão que será discutida no próximo capítulo.<br />

533 MANELI, 2004, p. 63 e 125.<br />

534 Id., ibid., p. 167.<br />

535 Cf. Id., ibid., p. 210.<br />

536 Cf. ARISTOTLE. Rhetoric (edição eletrônica). Book III, part 13.<br />

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