A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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os fundamentalistas, percebem o mundo como se houvesse uma guerra<br />
entre eles, os “partidários de Deus” e os infiéis, antes os comunistas,<br />
depois os materialistas e hoje, os maometanos. 761<br />
Ora, o fundamentalismo é constitutivo da homilética espetacular, logo a chance de que<br />
assuma um tom militarista é mais do que provável. 762 A palavra e, naturalmente, as imagens<br />
anexadas a elas se convertem em importantes armas de ataque e defesa. E a estratégia mili-<br />
tarista pressupõe conquista de território, daí a importância, apontada por Campos, de expan-<br />
dir as redes “de canais de televisão e emissoras de rádio” 763 . Para o telehomileta espetacular,<br />
é prioritário ocupar lugar “onde atores brandem impunemente seus canhões retóricos” 764 ,<br />
porque a “vitória” passa, necessariamente pela conquista do território da mídia.<br />
Por outro lado, a violência é constitutiva da personalidade humana, como notou Freud<br />
em seu O mal estar da civilização:<br />
O elemento de verdade por trás disso tudo, elemento que as pessoas estão<br />
tão dispostas a repudiar, é que os homens não são criaturas gentis<br />
que desejam ser amadas e que, no máximo, podem defender-se quando<br />
atacadas; pelo contrário, são criaturas entre cujos dotes instintivos devese<br />
levar em conta uma poderosa quota de agressividade. Em resultado<br />
disso, o seu próximo é, para eles, não apenas um ajudante potencial ou<br />
um objeto sexual, mas também alguém que os tenta a satisfazer sobre<br />
ele a sua agressividade, a explorar sua capacidade de trabalho sem compensação,<br />
utilizá-lo sexualmente sem o seu consentimento, apoderar-se<br />
de suas posses, humilhá-lo, causar-lhe sofrimento, torturá-lo e matálo.<br />
765<br />
A violência humana é um aprendizado, como afirmou Barbé. 766 Por isso. Por essa ra-<br />
zão busca-se sempre uma causa que justifique o uso da violência, suavizando ou racionali-<br />
zando os efeitos desse instinto, pois “espera-se impedir os excessos mais grosseiros da vio-<br />
lência brutal por si mesma, supondo-se o direito de usar a violência contra os crimino-<br />
761<br />
CAMPOS, 1997, p. 316.<br />
762<br />
Sobre o fundamentalismo e a violência, ver MENDONÇA, Antonio Gouvea de. O fundamentalismo protestante.<br />
Contexto Pastoral – Suplemento Debate. V. 5. n. 28, setembro/outubro, 1995.<br />
763<br />
CAMPOS, 1997, p. 316.<br />
764<br />
Id., ibid., p. 316.<br />
765<br />
FREUD, Sigmund. O mal estar da civilização. Revista Espaço Acadêmico, v. 3, n. 26, julho de 2003, mensal.<br />
Versão digital disponível em http://www.espacoacademico.com.br/. Consultado em julho de 2005.<br />
766<br />
Cf. BARBÉ, 1985, p. 56-63.