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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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que “a prédica leva o homem a agir, ajuda-o a viver, constitui-se para ele em conforto moral<br />

e rito coletivo” 523 .<br />

Com base nessas pressuposições é que se pode falar em uma homilética baseada na<br />

Nova Retórica, cujo instrumento mais importante é o diálogo. E o diálogo pressupõe: “o<br />

interesse do orador (escritor) e da audiência na troca de idéias; e a liberdade dos participan-<br />

tes de serem sinceros uns com os outros” 524 . Isso implica em que, se o orador não quiser<br />

antagonizar-se à sua audiência, deverá em alguma medida adaptar-se a ela. O que não signi-<br />

fica que o discurso deva ficar limitado aos caprichos da audiência, mas que deverá estabele-<br />

cer pontes cuja freqüência coloque em sintonia orador e audiência de tal maneira que o diá-<br />

logo se torne, pelo menos, possível. A Nova Retórica se entende como a “arte de conquistar<br />

o pensamento e o apoio de pessoas que podem estar erradas, mas que, pelo menos, têm a<br />

boa vontade de começar a pensar sobre determinado assunto” — e essa audiência é formada<br />

de “pessoas comuns, que podem não ser anjos, mas também não são demônios” 525 .<br />

Para Perelman, a retórica é o recurso que possibilita a superação de pré-conceitos e a<br />

transcendência do pré-estabelecido; nas suas palavras, ela “é uma maneira de sobrepujar o<br />

poder das aparências, dos dogmas, dos mitos e das ‘verdades óbvias’ do senso comum” 526 .<br />

Isso se faz mediante o fluxo retórico de argumentos, o apelo à audiência e o convite para o<br />

diálogo. A retórica seria, então, uma possibilidade razoável para a convivência democrática<br />

numa sociedade pluralista.<br />

O problema da conceituação de verdade e da interpretação dos fatos se constitui como<br />

fatores complicadores para o diálogo entre diferentes. Por isso, a necessidade de re-<br />

significar o que é a verdade e o que são os fatos. Para a Nova Retórica, “a verdade é infini-<br />

ta” enquanto “concebida com um processo dialético de reflexão sobre a objetividade, reali-<br />

zado pela mente subjetiva”; assim sendo, “toda verdade é somente parcial” — entretanto, “a<br />

verdade parcial é sempre verdade, pois”, segundo Hegel “abrange parte da verdade absoluta<br />

523<br />

DURKHEIM, Emile. As formas elementares de vida religiosa: o sistema totêmico na Australia. Trad. Joaquim<br />

Pereira Neto. 2 ed. São Paulo: Paulus, 2001. 535 p. Sociologia e religião. Também mencionado por<br />

WILLAIME, 2002, p. 42.<br />

524<br />

MANELI, 2004, p. 49.<br />

525<br />

Id., ibid., p. 50.<br />

526<br />

Id., ibid., p. 51.<br />

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