A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos
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essa convicção se mostrou insustentável, e as desilusões da modernidade — a decepção com<br />
a ciência, inclusive — passaram a exigir outras posturas.<br />
O objeto de estudo da retórica acabou recebendo outros apelidos, mas “se a retórica<br />
perdeu o nome nem por isso morreu” 368 . Como observou Reboul, ela sobrevive “no ensino<br />
literário, nos discursos jurídicos e políticos, como também vai renovar-se na comunicação<br />
de massa, própria do século XX” 369 . Inclusive a semiótica, de Roland Barthes, segundo Re-<br />
boul, se configura como uma retórica da imagem. 370 A retórica da imagem, conquanto de-<br />
senvolva o oratório em detrimento do argumentativo, torna evidente que “a imagem não é<br />
eficaz, nem mesmo legível sem um mínimo de texto” — portanto, “a imagem é [...] a retóri-<br />
ca a serviço do discurso, não em seu lugar” 371 . Outra vertente, que inclui além de Barthes,<br />
Jean Cohen, o grupo MU e Gérard Genette, transforma a retórica, nos anos 60 do séc. XIX,<br />
em “conhecimento dos procedimentos da linguagem característicos da literatura” — trata-<br />
se, portanto, de uma retórica literária. 372<br />
No aspecto religioso, a retórica parece já não ser estudada com aprofundado interesse.<br />
A onda de pregadores autônomos e extemporâneos deu lugar a uma homilética intuitiva,<br />
improvisada. Agora que os pregadores vêm ocupando espaço na mídia, estes estão sentindo<br />
a necessidade de repensarem seu discurso para adequá-los às exigências do meio. Essa ho-<br />
milética, por sua vez, procura inspirar-se nos princípios do marketing, da publicidade e da<br />
propaganda. 373 Mas vale lembrar, mais uma vez, que um dos setores que mais se aplica ao<br />
estudo dos princípios retóricos, radicalizando-os, testando-os e reformulando-os, é justa-<br />
mente o publicitário. De modo que, mesmo indiretamente, todos acabam bebendo na mesma<br />
fonte.<br />
368 REBOUL, 2004, p. 82.<br />
369 Id., ibid., p. 82.<br />
370 Sobre a retórica da imagem, ver Id., ibid., p. 83-85.<br />
371 REBOUL, 2004, p. 85.<br />
372 Sobre uma avaliação crítica desse movimento, ver id., ibid., p. 87-90.<br />
373 Um movimento religioso que marcou, no Brasil, o ingresso dos evangélicos no mundo do marketing, foi a<br />
Igreja Renascer em Cristo (no início, simplesmente, Fundação Renascer). É sabido que seu principal líder, o<br />
hoje apóstolo Estevão Hernandes, antes de tornar-se líder religioso, atuava profissionalmente na área do marketing.<br />
Depois dele, muitos seguiram pelo mesmo caminho do pastor-marketeiro.<br />
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