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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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tanto, arquivos ou registros fixados e inalteráveis. Antes, “as lembranças variam no recordar<br />

e no contar” 449 .<br />

Carl Sagan discorre longamente sobre as alterações de memória que freqüentemente<br />

ocorrem mediante certas circunstâncias, e demonstra como as lembranças não são dados<br />

objetivos, mas passíveis de serem alteradas e sujeitas a inúmeros fatores relacionados à sub-<br />

jetividade da psicologia humana. É importante tomar em conta que a imaginação e a memó-<br />

ria muitas vezes se confundem. Muito do que se afirma serem lembrança de acontecimentos<br />

reais, não passam de falsa memória, lembranças adulteradas ou recordações mascaradas.<br />

Não são raras as constatações de lembranças implantadas, lembranças reprocessadas, lem-<br />

branças disfarçadas, lembranças inventadas, lembranças reprimidas, lembranças errôneas.<br />

Frutos de um sutil processo de reelaboração retrospectiva. 450<br />

Daí, Silverstone poder afirmar categoricamente que “a memória […] é, incondicio-<br />

nalmente, política” 451 . Ela depende do interesse do interlocutor e “o interesse desafia todas<br />

as regras de memorização” 452 . Só se aprende aquilo pelo que se está interessado de modo<br />

que, como afirma Wurman, “os comunicadores mais eficazes são aqueles que compreendem<br />

o papel do interesse no sucesso da transmissão de mensagens, seja para tentar explicar astro-<br />

física ou para orientar proprietários de automóveis em estacionamentos” 453 . O interesse é<br />

seletivo e elege constantemente os assuntos aos quais se dedicará. Por outro lado, Epicteto<br />

(c. 50 a.C.-115 d.C.), já nos seus dias se dera conta de que “é impossível para um homem<br />

aprender aquilo que ele pensa já saber” 454 , tal a força do condicionamento “ideológico” da<br />

memória.<br />

Por essa razão, para que novos elementos sejam assimilados, com freqüência, a me-<br />

mória, coletiva ou individual, precisa ser alterada. Um dos principais instrumentos desse<br />

processo de reconstrução da memória são os discursos persuasivos veiculados pelas várias<br />

mídias. As lembranças do passado se fundem ou confundem com “as imagens e os sons de<br />

449<br />

SILVERSTONE, 2002, p. 233.<br />

450<br />

Sobre isso, ver SAGAN, Carl. O mundo assombrado pelos demônios: a ciência vista como uma vela no escuro.<br />

São Paulo: Companhia das Letras, 1996. 442 p.<br />

451<br />

SILVERSTONE, 2002, p. 234.<br />

452<br />

WURMAN, Richard Saul. Ansiedade de inform@ção: como transformar informação em compreensão. 5 ed.<br />

São Paulo: Cultura Editores Associados, 2003. p. 146.<br />

453<br />

Id., ibid., p. 146.<br />

454<br />

Id., ibid., p. 168.<br />

141

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