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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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ma)” 353 . O silogismo retórico, ou entimema, é necessário porque a natureza das decisões a<br />

serem tomadas nas assembléias democráticas só podem se basear em probabilidades e não<br />

em “inatingíveis certezas absolutas”, pois julgam o passado com base em depoimentos dis-<br />

crepantes; ou legislam para o futuro com base em eventualidades imprevisíveis. Isto implica<br />

em que, nas palavras de I. F. Stone, “os homens são obrigados a deliberar não em relação ao<br />

que é certo, e sim ao que é incerto” 354 .<br />

Essa visão afirmativa que Aristóteles tem da Retórica inspirará Perelman, no final do<br />

século XX, a propor uma Nova Retórica concebida como teoria da argumentação e base<br />

filosófica de uma sociedade pluralista, democrática e tolerante. 355 Isso é feito mediante a<br />

retomada da célebre definição de retórica dada por Aristóteles: “é a faculdade de ver teori-<br />

camente o que, em cada caso, pode ser capaz de gerar persuasão” 356 . Nas palavras de Bar-<br />

thes, a retórica é a “arte de extrair de qualquer assunto o grau de persuasão que ele compor-<br />

ta” 357 .<br />

A Arte Retórica, de Aristóteles, é dividida em três livros: o primeiro trata do discurso<br />

(a oratio) como sendo uma mensagem que depende do orador e de sua adaptação ao públi-<br />

co, e classifica os três gêneros do discurso: judicial, deliberativo e epidíctico; o livro II trata<br />

do receptor da mensagem, principalmente das emoções (paixões) que interferem na maneira<br />

como o público recebe os argumentos (por essa razão, Barthes afirma ser essa retórica base-<br />

ada em uma estética popular, no senso comum e na verossimilhança, cuja regra seria: “Mais<br />

vale uma verossimilhança impossível do que um possível inverossímil”); e o livro III trata<br />

da elocução (elocutio) bem como da ordem das partes do discurso (dispositio). 358<br />

Depois de Aristóteles, como já manifesto, pouco se acrescentou à matéria. Outros au-<br />

tores, entretanto, se encarregaram de retomar os temas aristotélicos, reorganizá-los, adaptá-<br />

los, inclusive à escrita. Assim procederam o moralista Cícero 359 e o didático Quintiliano 360 .<br />

353<br />

BARTHES, 2000, p. 16.<br />

354<br />

STONE,1988, p. 106.<br />

355<br />

Cf. HAARSCER, Guy, no prefácio de MANELI, 2004, p. xiv.<br />

356<br />

Do Livro I, cap. II, 1 de ARISTÓTELES. [s.d.]. p. 33.<br />

357<br />

BARTHES, 2000, p. 15.<br />

358<br />

Cf. Id., ibid., p. 16-17.<br />

359<br />

Marcus Tullius Cícero (106-43 a.C.).<br />

360<br />

Marcus Fabius Quintilianus (ca. 35-95 d.C.).<br />

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