18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Essa prática só foi possível por causa da democracia experimentada por algumas cidades-<br />

estado gregas. As comédias eram freqüentemente representadas nas festas dionisíacas e no<br />

famoso teatro Odeon de Atenas. Em geral, a comédia era considerada um gênero inferior<br />

quando comparada à tragédia, pelo fato de que atraía um público menos nobre, das camadas<br />

mais vulgares da população. Essa depreciação se deve, obviamente, também ao fato de que<br />

os principais alvos das sátiras eram a classe política dirigente e os poderosos, e mesmo as<br />

divindades eram ridicularizadas. Era natural, portanto, que os representantes das classes<br />

“nobres” tendessem a depreciar a comédia. Por isso mesmo, a comédia antiga teve vida cur-<br />

ta, tendo sido alvo de censuras e proibições, e extinguiu-se com a queda de Atenas e, por<br />

conseguinte, do fim de sua democracia.<br />

A comédia que sucedeu àquela da democracia grega, em meados do século IV a.C.,<br />

deslocou seu foco da crítica às classes dirigentes para as paródias e a crítica de costumes,<br />

adotando exclusivamente a temática de comportamento. Essa nova comédia foi o que so-<br />

brou de um extinto ideal patriótico e politizado que, subjugado, foi condenado a restringir e<br />

a domesticar seus horizontes. Seus temas passam a ser as relações humanas privatizadas,<br />

principalmente as intrigas amorosas. A política virou tabu. 834<br />

Tendo conhecimento desses dois períodos da história da comédia, pode-se, agora tra-<br />

çar paralelos com o que se poderia chamar de homilética cômica. Uma homilética cômica<br />

deve concentrar-se nos “maus costumes”, naqueles vícios cuja referência provocam a igno-<br />

mínia. A ignomínia, para Aristóteles é o ridículo, e “o ridículo reside num defeito ou numa<br />

tara que não apresentam caráter doloroso ou corruptor” 835 . Ou seja, a comédia não causa<br />

sofrimento, ainda que trate do feio, do disforme, da dor, etc. A ridicularização é a ferramen-<br />

ta da comédia. Por meio do humor e do riso, os temas mais difíceis da existência humana<br />

podem ser abordados de maneira suportável e, mesmo, agradável.<br />

Quando praticada pelas camadas oprimidas, a comédia torna-se instância de resistên-<br />

cia, mas quando cooptada pelo sistema hegemônico, torna-se domesticada e domesticadora.<br />

A julgar pela homilética cômica espetacular adotada por certos telehomiletas fica evidente<br />

834<br />

Sobre a Comédia Antiga e Nova, ver também http://www.dionisius.hpg.ig.com.br/tea_grego/nova_com.htm.<br />

Consulta em junho de 2005.<br />

835<br />

ARISTÓTELES. [s.d.]. p. 246.<br />

244

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!