18.02.2013 Views

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

III.1.7 A ditadura da ilusão<br />

A sociedade do espetáculo é a ideologia materializada, segundo Debord, e, por compa-<br />

ração, conclui-se que a religião espetacular é a teologia materializada a serviço dessa ideo-<br />

logia. Porque “a ideologia é a base do pensamento de uma sociedade de classes, no curso<br />

conflitante da história” 591 (tese 212). Os fatos ideológicos são a consciência deformada das<br />

realidades bem como sobre elas exercem sua ação deformante 592 . Ao materializar a ideolo-<br />

gia, o espetáculo converte-se na ideologia por excelência (tese 215).<br />

Com a vitória da abstração universal e da ditadura da ilusão, a história das ideologias<br />

acabou (tese 213). A ideologia total está realizada no espetáculo da não história (tese 214),<br />

pois se processa do outro lado do espelho, do outro lado da tela, no palco da representação e<br />

não na contingência do cotidiano.<br />

Por isso mesmo, essa ideologia se mostra esquizofrênica: pela desinserção da práxis<br />

(tese 217). Pois a consciência espectadora só conhece interlocutores fictícios (tese 218). Já<br />

não há mais a possibilidade de interação com o real, pois até este, se ainda houver, tende a<br />

ser deformado pela ideologia-espetáculo.<br />

Essa desinserção da práxis se reflete numa experiência religiosa contemplativa, na<br />

qual o fiel-espectador interage, a distância, com interlocutores igualmente fictícios. O resul-<br />

tado é a sublimação de uma fé que se realiza pela projeção crédula em personagens e cená-<br />

rios que são simulacros da própria experiência religiosa.<br />

III.1.8 O espetacular integrado<br />

Em 1988, Debord escreve seus Comentários sobre a sociedade do espetáculo nos<br />

quais retoma, seu texto de 1997, cujo conteúdo revolucionário provocou, naquela ocasião,<br />

reações e acusações de que Debord teria inventado e exagerado ao avaliar a profundidade do<br />

significado do espetáculo e de sua ação real na sociedade. O que ocorreu é que, em lugar de<br />

591 DEBORD, 1997, p. 137.<br />

592 Cp. ALVES, Rubem. Fé cristã e ideologia. Piracicaba: Unimep/Metodista Piracicaba, 1981.<br />

180

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!