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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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ideológico da comunicação e da tecnologia e, depois, no campo do que ele chama de comu-<br />

nicação telemissionada, que se dá no espaço sacro. Na medida em que as religiões ocupam<br />

lugar na mídia,<br />

223<br />

conseguem que os homens e a sociedade interpretem a si mesmos unicamente<br />

a partir da perspectiva tecnotelemissionada, isto é, os homens<br />

crêem que, através da palavra de Deus ou do Demônio, camuflada na<br />

palavra dos pastores divinos, traz felicidade, faz a criatura oprimida superar<br />

com absoluta compensação das misérias que pesam sobre eles. 756<br />

Dessa forma, tais religiões privam da liberdade seus interlocutores, e o fazem em no-<br />

me de Deus:<br />

– eis a contradição de uma violência simbólica –, de um povo de Deus<br />

regido pelas leis de um poder, que, na expressão de Kant, é o “poder eclesiástico,<br />

mal da religião”, que se realiza na forma de uma igreja visível<br />

que esquematiza a igreja invisível. Atribui-se, então, a autoridade<br />

divina a esta igreja organizada, onde as leis estatutárias, e não morais e<br />

éticas, tornam o homem escravo, alienante, e não com o seu maior bem<br />

de vida – a liberdade. [...] É violência. Acaba por limitar a autonomia<br />

da palavra falada e escrita, de autogovernar-se. De falta de respeito à<br />

sua vontade. Eis outra violência simbólica. 757<br />

No caso do discurso religioso presente de forma abundante na mídia brasileira con-<br />

temporânea, mesmo os menos radicais, é notório o gosto pelo que Campos chamou de retó-<br />

rica militarista, “que emprega palavras que funcionam como armas de guerra, convencional<br />

ou de guerrilha” 758 . Ocorre o que Domingos Barbé chama de “ritualização da violência” 759 .<br />

Referindo-se à prática da Igreja Universal do Reino de Deus, Campos afirma que “no nível<br />

da linguagem e da ação, os seus fiéis estão engajados numa guerra contra os demônios, se-<br />

cularismo, cultos mágicos de outras procedências, bruxarias e catolicismo” 760 . O mesmo<br />

pode ser dito de grande parte das instituições que ocupam a mídia. O mesmo autor, conclui:<br />

a retórica guerreira, contudo, não é peculiaridade do neopentecostalismo,<br />

pois, quase todos os grupos religiosos minoritários, particularmente<br />

756 ANDRADE FILHO, Francisco Antonio de. Palestra/Comunicação feita num Fórum de Debate (A Mídia e a<br />

Violência Urbana), realizado na Universidade Salgado de Oliveira – UNIVERSO, Recife/PE, dia 24 de outubro<br />

de 2000. Disponível em http://www.orecado.cjb.net. Consultado em julho de 2005.<br />

757 Id., ibid.<br />

758 CAMPOS, 1997, p. 312.<br />

759 Ver BARBÉ, 1985, 93 p.<br />

760 CAMPOS, 1997, p. 312.

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