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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Na prática, entretanto, embora pareça unificar, o espetáculo oficializa a “separação<br />

generalizada” 548 , pois retrata uma “práxis social global que se cindiu em realidade e em i-<br />

magem” 549 (tese 7). Não se trata, porém, de oposição entre realidade e espetáculo, mas de<br />

desdobramento essencial, no qual a alienação é recíproca (tese 8): “a realidade surge no<br />

espetáculo, e o espetáculo é real” 550 . E, ainda, “ao mesmo tempo, a realidade vivida é mate-<br />

rialmente invadida pela contemplação do espetáculo e retoma em si a ordem espetacular à<br />

qual adere de forma positiva” 551 .<br />

Mais adiante, Debord afirma que o espetáculo está ao mesmo tempo unido e dividido.<br />

Trata-se de uma divisão unitária e de uma unidade dividida (tese 54). Essa contradição se<br />

apresenta como a luta de poderes que disputam a gestão de um mesmo sistema socioeconô-<br />

mico (tese 55). As disputas e divergências a que se assiste são, entretanto, falsas lutas espe-<br />

taculares (tese 56).<br />

Uma primeira implicação do espetáculo para a homilética, portanto, é que, nesse con-<br />

texto, ela também acaba por efetuar “separação generalizada”, isto é a alienação inclusive<br />

entre a pregação e a sua representação, mas faz isso por meio de um discurso que se preten-<br />

de instrumento de unificação. A homilética espetacular é a imagem invertida (espelha-<br />

da/espetaularizada) da pregação, sua representação, e termina por constituir-se, assim, num<br />

movimento autônomo da não-homilética (a homilética real dá lugar à sua representação vir-<br />

tual).<br />

III.1.2 “O que é bom aparece”<br />

A crítica mais contundente de Debord é apresentada na tese 10, na qual o autor afirma<br />

que a verdade do espetáculo é a negação da vida que se tornou visível 552 . A vida, pintada<br />

com as cores do espetáculo, parece mais viva do que nunca. Porém, ao tentar tornar a vida<br />

mais viva, pela mediação de recursos tecnológicos cada vez mais sofisticados, acaba por<br />

548 DEBORD, 1997, p. 14.<br />

549 Id., ibid., p. 15.<br />

550 Id., ibid., p. 15.<br />

551 Id., ibid., p. 15.<br />

552 Cf. Id., ibid., p. 16.<br />

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