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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Platão (428 ou 427- 347 ou 348 a.C.) critica a “má” retórica dos sofistas, pois conside-<br />

ra que esta se baseia na verossimilhança, o que equivale dizer que se fundamenta na ilusão.<br />

Esse tipo de retórica Platão denomina logografia. Para Platão, a retórica sofística convence<br />

não pela verdade, mas pelo que parece ser a verdade (teria Platão consciência de que ao di-<br />

zer isso estava fazendo um exercício retórico?). Então, a retórica sofística funciona a des-<br />

peito da “disponibilidade de provas ou de argumentos que produzam conhecimento real ou<br />

convicção racional” 343 . Em contrapartida à retórica sofística, Platão apresenta uma retórica<br />

filosófica, à qual denomina psicagogia (formação das almas pela palavra), cujo objeto seria<br />

a verdade. Esta, sim, seria a verdadeira e boa retórica. Enquanto para os sofistas o homem<br />

era a medida de todas as coisas, para Platão, Deus é essa medida. Deus aqui é entendido<br />

como a expressão do verdadeiro. No Fedro, escreve: “a autêntica arte do discurso, desvin-<br />

culada do verdadeiro não existe e não poderá jamais existir” 344 . Entretanto, como denuncia<br />

Stone, o padrão de conhecimento (de verdade) proposto como necessário para alcançar essa<br />

“verdadeira retórica” é tão elevado “que poucos poderiam dele se aproximar” 345 . De qual-<br />

quer forma, a grande contribuição de Platão é o seu método: o modo fundamental da “ver-<br />

dadeira retórica” é o diálogo (a dialética) que pressupõe a relação afetiva entre os interlocu-<br />

tores e possibilita o pensar em comum. Por essa ênfase na dimensão afetiva, Barthes afirma<br />

ser a retórica platônica um “diálogo de amor” ou uma “retórica erotizada” 346 .<br />

Tal era também o Sócrates de Platão (470 ou 469-355 a.C.): completamente avesso à<br />

retórica, pois a iguala à bajulação. Entretanto, como lembra Stone, “nem sempre a persuasão<br />

é lisonja, e nem sempre a lisonja é persuasiva” 347 . Sua condenação à oratória seria antes<br />

expressão do seu desdém pela gente comum de Atenas. Sabe-se que Sócrates menosprezava<br />

abertamente os atenienses: desde suas crianças e escravos, até suas mulheres e homens,<br />

mesmo aqueles que eram reconhecidos como cidadãos. Para Sócrates, aquela gente vulgar<br />

jamais poderia agir de modo sensato e racional.<br />

343 ABBAG<strong>NA</strong>NO, 2000, p. 856 (verbete “Retórica”).<br />

344 REBOUL, 2004, p. 18.<br />

345 STONE, 1988, p. 103.<br />

346 BARTHES, 2001, p. 12.<br />

347 STONE, 1988, p. 104.<br />

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