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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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exploração; capitalismo em sua forma mais intensa, mais nua”. 780 Portanto, para Barthes, o<br />

pornográfico não é, nem pode ser erótico. Nas palavras do semiólogo, “o corpo pornográfi-<br />

co mostra-se, não se dá, nele não há nenhuma generosidade” 781 .<br />

Como se trata de uma apelo persuasivo quase irresistível, porque inconsciente e prati-<br />

camente instintivo, o apelo erótico passou a ser evocado e provocado com tal profusão na<br />

sociedade espetacular, que se está a ponto de obter o efeito inverso — isto é, o elemento que<br />

deveria ser estimulador está gerando uma espécie de frigidez psicossomática em certas au-<br />

diências. Com um mecanismo similar ao que desencadeia o processo da droga-adição, a<br />

mídia tem sempre que alargar as fronteiras eróticas de suas imagens para obter os mesmos<br />

efeitos de antes.<br />

As imagens eróticas cada vez mais explícitas são, segundo Ferrés, “um dos traços que<br />

mais sobressaem nas televisões durante os últimos anos”; isso extrapola a exploração plásti-<br />

ca do corpo físico, pois inclusive a “exibição impudica dos sentimentos” torna-se “recurso<br />

infalível para o aumento da audiência” 782 . O fetiche da invasão da privacidade, o voyeuris-<br />

mo, é um dos grandes trunfos da sedução da mídia. A televisão converteu-se numa janela<br />

indiscreta a devassar a intimidades das pessoas. Não somente seus corpos são expostos, mas<br />

também seus sentimentos, suas misérias, suas fraquezas, suas vergonhas, muitas delas ou-<br />

trora inconfessáveis publicamente, hoje plenamente (e até, orgulhosamente) expostas pelo<br />

“extraordinário senso de exibicionismo” 783 dos meios. Ferrés se refere a isso como “strip-<br />

tease psíquico” que torna manifesta a pornografia dos sentimentos. Vale lembrar a definição<br />

de “pornografia”, dado por William Barclay: “relação em que uma das pessoas é objeto e<br />

não sujeito” 784 .<br />

Assim, é cada vez mais freqüente o recurso aos “testemunhos” de pessoas que expõe<br />

suas vidas impudicamente diante das câmeras e diante das congregações. Alguns telehomi-<br />

letas vêm se especializando nesse tipo de abordagem estilo “Linha Direta”, um programa<br />

que se supõe jornalístico, mas que explora dramas pessoais do tipo: “A morte dorme ao la-<br />

780 Cf. SILVERSTONE, 2002, p. 101.<br />

781 Apud Id., ibid., p. 108.<br />

782 FERRÉS, 1998, p. 80.<br />

783 FERRÉS, 1998, p. 81.<br />

784 BARCLAY, William. As obras da carne e o fruto do Espírito. São Paulo: Vida Nova, 1992. p. 25-29<br />

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