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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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II.2.1.3 Elocutio (lat.) ou Lexis (gr.)<br />

Encontrados os argumentos e arranjados nas respectivas partes do discurso, cabe ao<br />

orador preparar a elocução, ou enunciação, ou ainda a alocução. Segundo Barthes 419 , a elo-<br />

cutio define um campo que abrange toda a linguagem. Isso inclui a gramática e a dicção ou<br />

“teatro da voz”. Nesta etapa, o orador ou oradora escolhe e reúne as palavras mais adequa-<br />

das à enunciação. As mesmas idéias podem ser expressas de diferentes maneiras e compete<br />

ao orador escolher (por meio da electio) a melhor maneira.<br />

O discurso, então, é enriquecido com “ornamentos” e “cores”. Mas não só no nível<br />

cosmético, superficial. Para Eco, “quando as figuras de retórica são usadas de modo ‘criati-<br />

vo’, elas não servem só para ‘embelezar’ um conteúdo já dado, mas contribuem para deli-<br />

near um conteúdo diverso” 420 . No dizer de Barthes, “os ornamentos ficam do lado da pai-<br />

xão, do corpo” e “tornam a palavra desejável”; e as cores servem para evitar que uma expo-<br />

sição seja “demasiado nua”, revestindo-a com roupas retóricas. Do ponto de vista psicológi-<br />

co, “as figuras são a linguagem da paixão”. 421<br />

Esse efeito se obtém mediante o emprego das chamadas figuras de retórica ou de lin-<br />

guagem. Estas somam às centenas, mas Roland Barthes elege quatro delas como sendo as<br />

“grandes figuras arquetípicas” 422 , cuja origem remonta à poesia. São elas: a metáfora, a me-<br />

tonímia, a sinédoque e a ironia. Umberto Eco reduz sua abordagem apenas à metáfora e à<br />

metonímia, que julga constituírem “a ossatura de qualquer outra operação retórica na medi-<br />

da em que representam os dois tipos de substituição lingüística possíveis, um atuando sobre<br />

o eixo do paradigma, outro sobre o eixo do sintagma” — uma constitui substituição “por<br />

semelhança”, e a outra “por contigüidade”. 423<br />

A técnica que consiste em tomar uma palavra com o sentido de outra, denomina-se<br />

tropos, e estes, no discurso, são acontecimentos, isto é, só têm existência momentaneamen-<br />

te. Isto porque as figuras de retórica, de linguagem, de estilo, ou de significação, só têm<br />

lugar em virtude de uma significação nova da palavra, por meio da relação estabelecida en-<br />

419 Cf. BARTHES, 2001, p. 88-98.<br />

420 ECO, Umberto. 2000, p. 236.<br />

421 Cf. BARTHES, 2001, p. 89-90.<br />

422 Id., ibid., p. 96-97.<br />

423 Cf. ECO, 2000, p. 234.<br />

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