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A PREGAÇÃO NA IDADE MÍDIA - Luiz Carlos Ramos

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Entre os teóricos da análise do discurso, fala-se em memória discursiva, e entende-se<br />

o contexto como um fenômeno eminentemente memorial. Assim, “um discurso, ao se de-<br />

senvolver como espaço textual, constrói para si, progressivamente, uma memória intratex-<br />

tual: a cada momento ele pode remeter a um enunciado precedente (‘viu-se que’, ‘a seção<br />

precedente’...)” 445 . O discurso também é influenciado pela memória de outros discursos, por<br />

isso fala-se em memória conversacional para designar a sucessão de interações ocorridas<br />

anteriormente entre os interactantes, ou ainda memória interdiscursiva. Em geral, a partir da<br />

contribuição de Charaudeau, distingue-se três tipos de memória: uma memória de discurso,<br />

que se constitui em torno de saberes de conhecimento e de crenças sobre o mundo e que<br />

forma comunidades discursivas; uma memória das situações de comunicação, em torno de<br />

dispositivos e contratos de comunicação, e que forma comunidades comunicacionais; uma<br />

memória das formas , , em torno de maneiras de dizer e de estilos de falar, e que forma co-<br />

munidades semiológicas — ora, “qualquer gênero de discurso mantém uma relação com a<br />

memória”. 446<br />

Para Silverstone, a recorrência à memória pelo estímulo comunicativo do discurso,<br />

promove a criação de novos “textos”, que, por sua vez, acabam por redimensionar ou rein-<br />

terpretar realidades e acontecimentos. É “no recordar, pelo testemunho oral [...] e pelo dis-<br />

curso compartilhável” que “os fios privados do passado se entrelaçam no tecido público,<br />

oferecendo uma visão alternativa, uma realidade alternativa às versões oficiais da academia<br />

e do arquivo”. Por isso mesmo, “essas memórias inauguram outros textos, não menos histó-<br />

ricos do que os primeiros, mas não obstante, outros” 447 .<br />

De novo, aqui, se nota quão determinante é o cotidiano, tanto para a tarefa do homileta<br />

como para a do seu interlocutor, pois a memória a que ambos recorrem “emergem do popu-<br />

lar e do pessoal e são o produto de nossos próprios tempos” 448 . As memórias não são, por-<br />

445 Verbete “memória intratextual” in CHARAUDEU, 2004.<br />

446 Cf. verbete memória e textualidade, memória e interdiscurso e memória e conservação, em CHARAUDEU,<br />

2004.<br />

447 Cf. SILVERSTONE, 2002, p. 233.<br />

448 Id., ibid., p. 233.<br />

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